Coletânea reúne ensaios que mostram como a abordagem metodológica proposta pode produzir sentidos e ampliar a leitura e a interpretação de textos em diferentes áreas
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ANÁLISE DA CONFIGURAÇÃO TEXTUAL - DOZE VARIAÇÕES DO MÉTODO / MARIA MORTATTI
A NOITE LILÁS / LA NUIT LILAS / MARIA MORTATTI
Maria Mortatti, poeta, escritora e professora universitária, lança seu sétimo livro de poemas, A noite lilás / La nuit lilas, em edição bilíngue – português / francês –, pela Scortecci Editora.
Nesse novo livro, a autora reuniu 55 poemas – originais e respectivas versões. Alguns foram escritos em português e vertidos para o francês. Em outros, o processo foi inverso. Na mistura das duas línguas, reverberam vivências íntimas despertadas na noite lilás, imagem poética em que se transfiguram o sentido de um encontro (in)esperado e o entrelaçamento amoroso que se vai configurando entre a consciência da fugacidade de cada instante e o desejo de continuidade. “Na noite lilás, os sons se sucedem em melodia tocada pelo arco deslizando incessantemente sobre as cordas de um violino”, nas palavras do autor do posfácio.
Sobre a autora
Maria Mortatti é poeta, escritora e professora titular na Universidade Estadual Paulista – campus de Marília. É licenciada em Letras, mestre e doutora em Educação, livre-docente em Alfabetização e presidente emérita da Associação Brasileira de Alfabetização. Além de livros, artigos e ensaios sobre história da educação, alfabetização e ensino de língua e literatura, é autora de livros de contos, crônicas e poesia: Breviário amoroso de Sóror Beatriz, pela Patuá; e, pela Scortecci Editora: a trilogia Essa Mulher – Mulher emudecida, Mulher umedecida, Mulher enlouquecida –; Amor a quatro mãos; O primeiro livro de Arthur; Prosa de Leitora – sobre livros, autores e outros acepipes – v.1 e v.2; Mulher qualquer, mulher – poemas. Recebeu o 54º. Prêmio Jabuti – Educação, da Câmara Brasileira do Livro, em 2012, pelo livro Alfabetização no Brasil: uma história de sua história (Editora Unesp).
SERVIÇO
A noite lilás – poemas / La nuit lilas – poèmes – Maria Mortatti
Edição bilíngue – Português / Francês
Posfácio / Postface – Michel Thiollent
Scortecci Editora – Poemas – Formato 16 x 23 cm – 1ª edição – 2025 – 84 páginas
ISBN: 978-85-366-7047-8
Mais informações:
Livraria Scortecci: https://www.livrariascortecci.com.br/home.php
Maria Mortatti: mariamortatti@gmail.com
ALBALAT E A ARTE DE ESCREVER / MARIA MORTATTI
COM O TEMPO - AVEC LE TEMPS / MARIA MORTATTI
Com o tempoCom o tempo tudo se vai:os anos de enganos,as ilusões perdidas,as perguntas sem respostas.Quando tudo se foie exaustos nos encontramosna rede estreita do destino,esquecida toda a ciência,almas se roçando em carne viva,na urgência do instante,enfim, aprendemos a amar.26.01.2024∞Avec le tempsAvec le temps, tout s’efface :les années de tromperie,les illusions perdues,les questions sans réponse.Quand tout s’est effacéet, épuisés, nous nous retrouvonsdans le hamac étroit du destin,toute science oubliée,les âmes s’effleurant en chaire vivante,dans l’urgence de l’instant,enfin, nous apprenons à aimer.26.01.2024
In: A noite lilás / La nuit lilas. Ed. bilíngue. Posfácio de Michel Thiollent, Scortecci Editora, 2025
MULHER / MARIA MORTATTI
ROLAND BARTHES E O PRAZER DO TEXTO: É ISSO! / MARIA MORTATTI
Não só as da infância. Uma das experiências recentes de leitura me fez lembrar dessa constatação, de quando e por que li os primeiros volumes de À la recherche du temps perdu (Em busca do tempo perdido), de Proust, e dos lugares e dias de tantas outras leituras de que me lembrei quando o li. Uma, em especial, veio-me involuntariamente à memória, a do livro O prazer do texto (Le plaisir du texte), do escritor e crítico literário francês Roland Barthes (12.11.1915- 26.03.1980), com tradução brasileira de J. Guinsburg (Perspectiva, 198?). Li-o um ou dois anos antes do opúsculo de Proust. Foi indicado por um professor que eu admirava. O exemplar era emprestado da biblioteca da faculdade.
Em um sábado à noite, talvez do ano de 1987, enquanto esperava o horário para um prazeroso passeio com os amigos, sentei-me na poltrona da sala, com lápis e papel ao lado, e comecei a ler como quem apenas se ocupa de uma distração. Aos poucos, porém, fui penetrando no texto. Levantei-me. Fui para cadeira da mesa de jantar. Aprumei-me. Comecei a anotar. Tudo era descoberta. Desisti do passeio, apesar da insistência dos amigos. Retomei a leitura e assim fui até a madrugada. Na memória ficou uma imagem: o prazer do texto, o prazer de desabotoar o primeiro botão da blusa... Não sei se as palavras de Barthes eram exatamente essas, mas assim gravei na memória.
Anos depois, comprei um exemplar da tradução brasileira. Localizei o trecho. As palavras eram parecidas, mas o sentido se renovou prazerosamente. E assim foi numa outra noite de sábado, quase quatro décadas depois, quando escrevia o prefácio para o livro Cahier de poésie 3 / Caderno de poesia 3, de Michel Thiollent (Scortecci Editora). Reli o livro de Barthes e lá encontrei minhas anotações de antigos momentos de leitura e dos pequenos pormenores que fizeram renascer conexões intertextuais infinitas e angustiantes com outros autores, com “a desenvoltura que faz com que o texto anterior provenha do texto ulterior”, como as macieiras normandas de Gustave Flaubert que Barthes lê a partir de Proust.
Aquele primeiro botão de sentido cintilou novamente. O prazer do texto é a intermitência. O que seduz é a cintilação da pele entre duas bordas. Assim é a descoberta da relação erótica com os livros que nos escolhem ou escolhemos. Assim foi também com esse livro de Barthes, que despertou em mim o desejo de conhecer sua vasta e sedutora obra. O que faz de um escrito um texto é sua vontade de fruição, seu brio, o ponto onde ultrapassa a tagalerice e arranca do leitor, não um juízo de valor – é bom ou ruim –, mas um juízo de fruição estética: “É isso!”. “O texto de prazer é Babel feliz”.
Maria Mortatti – 28.05.2025
EDITH WARTHON, PRESENTE DE MR. DURHAM / MARIA MORTATTI
UMA CAIXA DE JOIAS LITERÁRIAS CHINESAS / MARIA MORTATTI
O volume, com seis ilustrações em bico de pena, contém cinco contos – “O chapéu de feltra esfarrapado”; “A caixa de joias da cortesã”; “O vendedor de óleo e a cortesã”; “O velho jardineiro”; “A vingança de um homem justo” –, selecionados entre mais de duzentas histórias populares chinesas do século X ao XVII, inicialmente manuscritos de contadores de histórias, em linguagem popular, que se desenvolveram como gênero literário e foram publicados em coleções no começo do século XVII. Não há indicação do nome do tradutor para o português, mas pode-se presumir que seja ou uma tradução brasileira “anônima” ou mais provavelmente tradução direta de algum entre os que, como Gladys Yang, Yang Xianyi e Sidney Shapiro, traduziram para o inglês muitas obras da literatura chinesa clássica e moderna, integrando as publicações da Edições em Línguas Estrangeiras, fundada em 1952 e com milhares de publicações, em dezenas de idiomas, sobre assuntos diversos e também material didático para estudantes estrangeiros na China.
No conto que dá título ao volume se encontra uma narrativa entremeada de alguns versos em tom de comentário, na qual é contada a história de amor protagonizada por Décima, a mais linda cortesã da casa da velha senhora e a mais cobiçada pelos homens. Li, filho de alto funcionário imperial e estudante do Colégio Imperial de Pequim, para usufruir da companhia de Décima, gastou todo o dinheiro que o pai lhe dava. Tornaram-se amantes, juraram amor eterno e, apesar das suspensão dos pagamentos e ordens do pai para que ele retornasse, decidiram libertá-la da casa e da condição de cortesã para se casarem. Depois de muitas dificuldades para Li conseguir o dinheiro e as duras condições impostas pela velha senhora para libertá-la, Décima ganhou de uma cortesã uma caixa com a recomendação de somente abri-la em caso de necessidade e o casal partiu em viagem, sem saber ao certo aonde ir sem dinheiro, temendo voltar à casa do pai dele, depois de ter gastado e com uma cortesã o dinheiro que o pai lhe dera e ainda querer se casar com ela. Durante a viagem, Li encontrou o astuto jovem Sun, aceitou seu convite para beber, contou a ele sua história, ouviu seus conselhos e se convenceu a vender Décima para Sun, pois, assim, Li poderia voltar para a casa do pai com dinheiro e sem ofender a família com uma esposa cortesã. Quando Li conta a Décima sua decisão, sentindo-se traída e abandonada pelo homem que lhe jurara amor eterno, aparentemente aceitou ser vendida, enfeitou-se, perfumou-se e abriu a caixa que havia ganhado na partida. Foi abrindo gavetas de dentro da caixa, cada uma com muitas pedras preciosas, flautas de jade e peças de ouro, jogando-as no rio. Chorando de remorso, Li tentava impedi-la, sem sucesso. Depois de contar, em voz alta para as pessoas que se juntaram ao redor do barco, sua história e a traição de Li que a abandonou no meio do caminho, Décima agarrou o cofre, saltou no rio e nunca mais foi encontrada. Li enlouqueceu e Sun, sentindo-se perseguido pelo fantasma de Décima, adoeceu e definhou até morrer. A narrativa termina com estes versos: “Aqueles que nunca amaram devem ficar silenciosos;/ Não é fácil saber quanto vale o amor;/ E ninguém a não ser os que dão valor à constância/ Merece o nome de amante nesta terra”.
O enredo se passa em 1592, no contexto da invasão da Coreia pelo general japonês Hideoshy, no período Wan Li, quando o imperador concordou com o novo sistema de vantagens para os que tinham dinheiro, como facilidades nos estudos dos filhos de funcionários para adquirirem lugar no Colégio Imperial. Passados mais de quatro séculos e em contexto social e geográfico bastante diverso, essa história ainda encanta de diferentes pontos de vista; a mim, pelo realismo lírico com que são representadas as relações de poder e amorosas, especialmente a condição das mulheres. E o reencontro e a releitura dessa caixa de joias chinesas – que garimpei, escolhi a dedo e comprei por US$ 2,50, no dia 16 de maio de 1990, não lembro onde... – fez-me pensar que a leitura é também um espécie de amor; não é fácil saber quanto valem joias literárias e somente os que lhes dão valor merecem o nome de amantes da literatura...
Maria Mortatti – 16.05.2025
FERNANDA LOPES DE ALMEIDA, UMA CLARA LUZ NA LITERATURA INFANTIL / MARIA MORTATTI
Iniciou a carreira literária para crianças em 1970, integrando uma geração de novos escritores que revolucionaram a literatura infantil e juvenil – como Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Ziraldo – apresentando novos temas e formas de escrever para o público infantil, com textos e ilustrações sensíveis e poéticos, com objetivo de divertir e propiciar leitura prazerosa, sem preocupação de ensinar. Publicou mais de duas dezenas de livros nas décadas seguintes, com muitas edições e milhares de leitores até os dias atuais e que se tornaram clássicos da literatura infantil.
Entre os que me marcaram, estão: os dois livros de estreia da autora no gênero, A fada que tinha ideias – ilustrações de Edu –, adaptado para peça teatral em 1982, que recebeu Troféu Mambembe pelo Melhor Texto de Teatro Infantil, e Soprinho – ilustrações de Odilon Moraes –, que recebeu o Prêmio Jabuti de Melhor Livro Infantil – 1971, da Câmara Brasileira do Livro e integra o acervo permanente da Biblioteca Internacional para a Juventude; e A curiosidade premiada – ilustrações de Alcy Linhares, que recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte em 1978.
Clara Luz, Soprinho e Glorinha também fizeram parte de minhas aulas na educação básica e na universidade. Com eles e as professoras de horizontologia e D. Domingas, aprendemos que, quando alguém inventa alguma coisa, o mundo anda; que podemos ver tudo de forma diferente e encantada, quando nos deixamos levar pelo sopro da imaginação; e que, se para certos adultos prêmio só existe quando se pega nele, para as crianças – e adultos também – a curiosidade é premiada com o autoconhecimento e o conhecimento do mundo.
Não tenho esses livros em mãos. Levei-os para ler com meu neto, deliciamo-nos com a leitura e ficaram na biblioteca dele. Mas são histórias presentes até hoje em minha memória, clássicos que independem do tempo e da faixa etária. Uma clara luz e um duradouro sopro de renovação na literatura para crianças – e adultos também. Basta senti-los. Assim como disse a longeva autora em entrevista para a revista Crescer: “Nunca penso em faixa etária exata, pois as crianças são tão diferentes umas das outras. E acho, como muitos acham, que o bom livro infantil interessa também ao adulto. ... o que faz um livro ser realmente bom? Não se sabe, ou melhor, não se traduz em palavras. Sente-se”.
Maria Mortatti – 13.05.2025
MASSAUD MOISÉS - "TODO LIVRO TEM SUA HISTÓRIA" / MARIA MORTATTI
Durante meio século, entre final dos anos 1950 e os anos 2000, escreveu e publicou livros – alguns com dezenas de reedições ou edições revistas e aumentadas – sobre literatura portuguesa e brasileira, crítica e análise literárias, que se tornaram referências para estudiosos, professores e estudantes. Entre eles, estão: Fernando Pessoa: o espelho e a esfinge; A literatura portuguesa; A literatura portuguesa através dos textos; O conto português; Pequeno dicionário de literatura portuguesa - Crítico, biográfico e bibliográfico; Pequeno dicionário de literatura brasileira (com José Paulo Paes); História da literatura brasileira (5 vols.); A criação literária. Poesia; A Criação Literária. Prosa (2 vols.); Dicionário de termos literários. Dirigiu também a Colecção de Textos Básicos de Cultura, da Cultrix.
Sua obra me foi apresentada no início dos anos 1970 pelos professores Jorge Cury, de Literatura Portuguesa, e Dante Tringali, de Teoria Literária, no curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, na época instituto isolado de ensino superior, posteriormente também incorporado à Unesp. Com admiração pelo contemporâneo e colega, esses dois professores indicavam e recomendavam a obra de Massaud Moisés como fonte de consulta para nossos estudos universitários e para nossa futura atuação profissional como professores de língua portuguesa e literaturas brasileira e portuguesa no então ensino de 1º. e 2º. graus. Quando perguntávamos sobre a pronúncia correta do nome do autor, Cury respondia em seu característico tom brincalhão: “Alguns dizem ‘Massô’, mas está errado. Ele não é francês, é filho de libanês. A pronúncia correta é ‘Massaúde’.
Segui as recomendações. Os livros de Massaud Moisés estavam entre os que emprestei da biblioteca da faculdade ou comprei na livraria da cidade, para estudar durante o curso e depois para o concurso de ingresso no magistério público. Na prova de redação, cujo tema era uma comparação entre O Cortiço, de Aluísio Azevedo, e O crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz, fiz uma quase paráfrase da análise que lembrava ter lido em A criação literária (Melhoramentos; Edusp, 7ª. ed.,1975). Outros, como Guia prático de análise literária (Cultrix,1974) e Dicionário de termos literários (Cultrix, 1982), também passaram a fazer parte da minha biblioteca. Nas páginas amareladas estão as marcas do intenso manuseio e anotações para preparação de aulas, análises literárias e pesquisas sobre termos, autores e obras. As lembranças desses livros, recuperei-as para registrar neste texto, quando, dias atrás, ao pegar do chão a capa despregada de A criação literária e devolvê-la ao exemplar na estante, abri-o e encontrei sublinhada a primeira frase do prefácio do autor: “Todo livro tem sua história”. Dei-me conta, então, de que, embora não tenha conhecido Massaud Moisés pessoalmente, meio século se passou desde o início de minha história de leitora de sua obra, quando eu era ainda estudante de Letras em Araraquara, e há mais de 30 anos ingressei como docente e pesquisadora na universidade e na faculdade de que ele foi diretor, contribuindo para a expansão do ensino superior no estado de São Paulo e, de modo duradouro, para a formação de milhares de estudantes, professores e pesquisadores.
Maria Mortatti - 17.04.2025