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CRÔNICA DE VÉSPERA DE NATAIS / MARIA MORTATTI

Já não me lembro se acreditei mesmo em Papai Noel. Quando era criança, havia árvore de Natal, presépio, "ceia", reunião e briga de família, entrega de presentes à meia-noite. Mas o bom velhinho eu nunca vi. E nem sempre ganhei o que pedi. Isso não importa mais. Se me lembrei do assunto, não foi por saudosismo ou melancolia natalina. Foi a lembrança viva daqueles recentes anos felizes e do presente que conquistei: o amor da minha vida. Mas perdi.

Então, entendi: mesmo se Papai Noel existisse, não adiantaria lhe pedir presentes assim. Agora, só a mim cabe me proporcionar a desejada felicidade de gerar e ver nascerem frutos de meu ventre, saboreá-los em ceia natalina e, com a leveza possível, compartilhar com os leitores minha obra, minha vida.

Foi assim que me lembrei da letra da canção “Véspera de Natal”, de Adoniran Barbosa: “o orifício da chaminé era pequeno”. Acho que, enfim, encontrei uma explicação – pouco convincente, mas muito conveniente – para não ter ganhado os presentes que pedi e, sobretudo, ter perdido o que conquistei. Aquelas histórias de infância, enterrei-as de vez na sacolinha com a fantasia suja, rasgada e desbotada que algum Papai Noel distraído ou exausto deixou debaixo do banco da praça. Os anos mais felizes da minha vida, todavia, por mais que eu tente enterrá-los, continuam vivos no luto que não finda e celebrados nos livros de poemas que dediquei ao homem amado. E, para nunca esquecer que, sim, fui feliz, atualizei, com a leveza possível, esta crônica de véspera de natais. 

Maria Mortatti – 24.12.2023