Então, entendi: mesmo se Papai Noel existisse, não adiantaria lhe pedir presentes assim. Agora, só a mim cabe me proporcionar a desejada felicidade de gerar e ver nascerem frutos de meu ventre, saboreá-los em ceia natalina e, com a leveza possível, compartilhar com os leitores minha obra, minha vida.
Foi assim que me lembrei da letra da canção “Véspera de Natal”, de Adoniran Barbosa: “o orifício da chaminé era pequeno”. Acho que, enfim, encontrei uma explicação – pouco convincente, mas muito conveniente – para não ter ganhado os presentes que pedi e, sobretudo, ter perdido o que conquistei. Aquelas histórias de infância, enterrei-as de vez na sacolinha com a fantasia suja, rasgada e desbotada que algum Papai Noel distraído ou exausto deixou debaixo do banco da praça. Os anos mais felizes da minha vida, todavia, por mais que eu tente enterrá-los, continuam vivos no luto que não finda e celebrados nos livros de poemas que dediquei ao homem amado. E, para nunca esquecer que, sim, fui feliz, atualizei, com a leveza possível, esta crônica de véspera de natais.
Maria Mortatti – 24.12.2023