Final de tarde. Meu estoque de água mineral acabou logo hoje. Saí para comprar na loja de conveniência mais distante, aproveitando para a caminhada diária: 3 km, ida e volta. Peguei na geladeira duas garrafas de 1,5 litros, uma para cada mão. Reparei nas bandejas de doces em estufas de vidro, no balcão ao lado. Os camafeus me chamaram. Não sei bem o motivo. Talvez o nome poético ou a bandeja bem arrumadinha. Não gosto de doce – exceto das queijadinhas daquele posto de estrada no caminho para São Paulo. Nem tenho açúcar em casa. Mas fui até eles. Olhei, olharam-me. Pedi um camafeu branco, para viagem. O jovem lindo que me atendeu estranhou. Achou que não tinha ouvido direito.
– Um só?
– Sim, só um.
– Não quer levar dois?
– Não, obrigada. É só para mim. E nem gosto de doces... Nem sei por que estou comprando...
Ele insistiu, com um sorriso:
– Leva, sim. São gostosos. Mas são tão pequenos. Não quer dois?
– Tá bom. Então, dois. São pequenos, mesmo. E ainda vou tirar essa cobertura branca. Muito açucarada. Vai sobrar pouco recheio. Então, tá: dois, por favor.
Ele sorriu meio triunfante. Eu voltei para o apartamento com duas garrafas de água mineral e dois camafeus. Preparei um chá de camomila e coloquei-os juntinhos ao lado da xícara, sobre a tolha da mesa da sala de jantar. Sentei-me para admirá-los. Fotografei a cena tão inusitada para mim. Hesitei. Tão lindos e tão delicados! É até um desperdício estético tirar a cobertura branca e comê-los.
Deixei o chá esfriando e vim ao escritório digitar este texto. Depois de jantar volto lá. Para a sobremesa. Não foi por acaso que me escolheram. Talvez sejam mensageiros do espírito natalino. Mas só experimentando para saber o sabor desse presente inesperado: os dois camafeus brancos que, com delicada beleza, esperam pacientemente por mim ao lado de uma xícara de chá sobre a mesa da sala de jantar.
Maria Mortatti - 25.12.2023