Literatura infantil brasileira, de Leonardo Arroyo (1918 – 1985), é um clássico da historiografia da literatura infantil brasileira.
A primeira edição desse livro foi publicada em 1968, pela Edições
Melhoramentos, com o subtítulo “ensaio de preliminares para sua história e suas
fontes”, prefácio do autor e ensaio introdutório, assinado pelo educador Manoel
Bergström Lourenço Filho, para quem os méritos do livro lhe conferem “na
bibliografia da especialidade uma posição de real preeminência, a de um estudo
básico”.
Com ilustração de capa assinada por Gioconda Uliana Campos e ilustrado
internamente com imagens de raras e valiosas fontes documentais utilizadas pelo
autor, o livro integrava a Série “Grandes textos” da prestigiada Coleção
“Biblioteca de Educação”, criada, em 1927, organizada e dirigida por Lourenço
Filho. Em consonância com a estreita relação entre Educação, Psicologia e
Sociologia, como se constata por exemplo na relação de títulos apresentada na
quarta capa, o objetivo dessa coleção era a “formação de um conjunto de obras
de grande interesse e utilidade para estudantes e professores, assim como aos
que se interessam pelos conhecimentos fundamentais da Educação”,
Essas destinação e circulação previstas para a área de Educação,
predominantemente, são reafirmadas no texto de orelha — “servirá como leitura
complementar para os estudantes de Literatura de nossas Faculdades de
Filosofia, bem como a professores e a leigos interessados no tema” — e, no
ensaio introdutório, ainda que Lourenço Filho também indique a leitura a
“sociólogos, historiadores e homens de letras”.
A segunda edição do livro foi publicada em 1988, também pela Melhoramentos,
com algumas diferenças, sobretudo no projeto gráfico, em relação à anterior:
formato menor; capa ilustrada com reprodução da ilustração da capa de um dos volumes
da coleção “Biblioteca Infantil” criada em 1915, pelo professor Arnaldo O.
Barreto, e publicada pela mesma editora; inclusão, na capa, do nome de Lourenço
Filho como autor da apresentação; supressão do subtítulo na folha de rosto,
supressão da indicação de pertencimento à Biblioteca da Educação; inclusão de
informações sobre o autor e atualização da relação de suas obras.
Além dessas modificações, foi acrescentada nota de apresentação da
edição e foi substituído o texto da quarta capa. Considerando-se a repercussão
do livro ao longo dos 20 anos de intervalo entre as duas edições, todas essas
modificações contribuíram para ampliação a destinação e a circulação
pretendidas para o livro, desta vez predominantemente para o campo
dos estudos literários relacionados com educação, como se pode observar, por
exemplo, na nota de apresentação e no texto da quarta capa.
Na “Nota”, assinada por Glória Pondé, professora da Faculdade de Letras
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, são destacadas, como qualidades do
livro: a inventariação documental crítica exaustiva, a articulação entre
perspectiva periodológica e a “situação histórico-social-educativa do país na
época, comparando-a com os movimentos culturais existentes no exterior”, que
torna o livro um “documento raro e precioso, que resgata para os
pesquisadores de todas as áreas a história social do país” e o fato de
apresentar mais do que história da literatura infantil brasileira, uma
“história da pedagogia brasileira”.
No texto de quarta capa, caracteriza-se o livro como “obra fundamental
para pesquisadores de todas as áreas das ciências humanas”, “um importante
documento, de leitura indispensável para aqueles que buscam as raízes da
formação social brasileira”; e, ainda na quarta capa, tem-se a seguinte
avaliação que Nelly Novaes Coelho, professora de Teoria Literária na
Universidade Estadual Paulista – Marília e na Universidade de São Paulo,
ensaísta, crítica literária e autora do notável Dicionário Crítico da
Literatura Infantil e Juvenil Brasileira (1983), faz do livro: “...
tem servido de base ou ponto de partida obrigatório a tudo quanto se tem
publicado sobre o assunto, desde então”.
Publicada 13 anos após a anterior, esta terceira edição, pela Editora Unesp,
contém poucas modificações em relação à anterior: acréscimo desta
apresentação, de texto de orelha assinado por João Luis
Ceccantini, atualização de alguns dados
relacionados à bibliografia sobre o autor e sua obra, além das relativas aos
aspectos de composição gráfico.
Essa iniciativa editorial vem acrescentar substanciosa contribuição ao
catálogo dessa destacada editora universitária brasileira, do qual constam
também importantes títulos sobre literatura infantil, dentre os quais, Monteiro
Lobato, livro a livro: obra infantil, organizado por Marisa Lajolo e João
Luís Ceccantini, ambos professores da área de Estudos Literários, ela na
Universidade Estadual de Campinas e Universidade Mackenzie; ele, na
Universidade Estadual Paulista. Publicado em coedição com Imprensa Oficial do
Estado de São Paulo, esse livro foi contemplado, em 2009, com o Prêmio Jabuti
nas categorias “Teoria e Crítica Literária” e “Melhor Livro do Ano –
Não-ficção”.
E, ao mesmo tempo, essa publicação vem propiciar condições de ampliação
das possibilidades de circulação do livro entre leitores de outras gerações e
de outras áreas, além da de Educação e dos campos dos estudos literários,
históricos e sociológicos, nos quais essa circulação e repercussão já se
encontram consolidadas.
Embora se tenham modificado as condições sociais, culturais e
educacionais do momento histórico em que Arroyo produziu o ensaio e
embora se tenham esgotado os exemplares das edições anteriores, o livro
continua sendo recorrentemente utilizado, por meio da leitura de exemplares que
integram acervos pessoais de estudiosos e pesquisadores e acervos de
bibliotecas universitárias, sobretudo.
Literatura infantil brasileira continua, portanto, atual e necessário, como “profetizavam” o autor do livro e o autor de seu ensaio introdutório.
***
Em seu prefácio, Arroyo explicita compreensão das grandezas e limites do
ambicioso trabalho que desenvolvera individualmente, ao longo de vários anos,
coletando e reunindo fontes de diferentes tipos relativamente à literatura
infantil “em sua acepção ampla”: "todo quanto se dê à criança a ler, e,
mais, todas as formas literárias da tradição oral, ou do folclore, tenham elas
formas recreativas ou didáticas, ou ambas, caberá na rubrica de literatura
infantil.” Assim, a literatura infantil, “como qualquer outra expressão
literária, decorre de condições sociais em seu conceito mais amplo.”
Com base nesse conceito, Arroyo formula um objeto de investigação —
literatura infantil brasileira — em relação direta com o
método de investigação e de exposição adotados. A formulação desse objeto e a
elaboração do ensaio se situam em momento no qual já estava consolidada e
reconhecida a obra de Arroyo, como jornalista, historiador, ensaísta, contista
e autor de livros de literatura infantil, e sua interlocução com
ilustres nomes representativos do efervescente movimento em torno da
constituição de um projeto para o país, que configurou o pensamento social
brasileiro e, em torno dele, o movimento cultural, literário e editorial da
época. Dentre esses nomes, podem-se destacar, por exemplo: Lourenço Filho,
Fernando de Azevedo, Luís da Câmara Cascudo, Mário de Andrade, Sérgio Buarque
de Hollanda, Gilberto Freyre, Antonio Cândido, Raimundo de Menezes, Ernani
Silva Bruno, Francisco Marins, Octales Marcondes Ferreira.
Buscando responder a perguntas de seu tempo, Arroyo produz uma versão da
história da literatura infantil brasileira. Essa história, o autor a
caracteriza como processo evolutivo complexo e diversificado “em face das
numerosas áreas culturais brasileiras e prevalência transregional dos elementos
característicos da educação”. E, nesse processo evolutivo, identifica fases, de
acordo com sua sucessão (complexamente linear) no tempo: a literatura oral, a
literatura escolar, a imprensa escolar e infantil e, por fim, a “maturidade de
nossa literatura infantil”, a partir da publicação, em 1921, de Narizinho
Arrebitado, de Monteiro Lobato. Ou, nas palavras de Lourenço Filho, desde
suas preliminares até a “reação nacional” na literatura infantil, “iniciada em
fins do século XIX com livros mais difundidos na forma industrializada, com
autores, temas e linguagem crescentemente brasileiros, caracterizando período
inicial de transição entre livros propriamente didáticos e outros, já de maior
valor artístico”.
A partir dessa tese defendida e demonstrada por Arroyo, estava, então,
posta, de forma sistemática e programática, a questão nuclear: a ambiguidade
fundante da literatura infantil brasileira, de que decorre sua oscilação entre
gênero didático e gênero literário e o correspondente esforço de autores e
pesquisadores em propor caminhos de superação do didatismo em favor da
literariedade dos textos desse gênero.
Essa questão já estava presente na escassa produção brasileira sobre o
tema, anterior à publicação do livro de Arroyo e com a qual manteve
interlocução direta, além daquela por ele estabelecida indiretamente com o “rol
bibliográfico competente de obras publicadas na França, na Inglaterra, nos
Estados Unidos, na Espanha, na Alemanha e, principalmente, na Itália”.
No que se refere à produção brasileira sobre o tema, contava-se, até a
década de 1960, com iniciativas esparsas, predominantemente vinculadas a ou
motivadas por necessidades e pontos de vista educacionais e
didático-pedagógicos, algumas delas contundentes, como, por exemplo: na esfera
institucional, a criação, em 1936, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema,
da Comissão Nacional de Literatura Infantil; a inclusão gradativa da matéria
“Literatura infantil” nos Cursos Normais, inicialmente nos estados do Rio de
Janeiro (1932) e São Paulo (1946); e, na esfera editorial, a publicação,
relativa ao tema, do capítulo de livro de Afrânio Peixoto (1923), dos artigos
de Lourenço Filho (1943) e de Fernando de Azevedo (1952), do livro de Cecília
Meireles (1949), da bibliografia de Lenyra Fraccaroli (1951), dos manuais de
ensino de Antônio d’Ávila (1957) e de Bárbara V. Carvalho (1959).
É, porém, a partir de seu ensaio que a questão da ambiguidade fundante
da literatura infantil brasileira assume importância nuclear, em torno da qual,
predominantemente, desenvolveram-se estudos posteriores e se vem constituindo
um campo de conhecimento específico e interdisciplinar, envolvendo, em
especial, as áreas de Educação, Letras, Psicologia, Biblioteconomia, História
da Educação.
Assim engajado nas complexas discussões de sua época e nas não menos
complexas questões que então se formulavam, Arroyo volta sua atenção para um
tema cuja compreensão estava a demandar explicações mais aprofundadas. Desse
novo “lugar” que passa a ocupar, produz o que não pretendia fosse “obra
definitiva”, nem “amplamente, uma história” da literatura infantil brasileira,
mas somente um “ensaio de preliminares para a sua história e suas fontes”, que,
conforme o plano original, seria completado com uma Antologia da
Literatura Infantil Brasileira.
Arroyo reconhecia as qualidades e as limitações de sua iniciativa, sabia
que o farto, disperso e desconhecido conjunto de fontes documentais que
coletara e reunira se caracterizava como “o suficiente para um estudo pioneiro,
embora muitas vezes deficiente por pretender cobrir toda a área cultural
brasileira, sobre literatura infantil brasileira”. Sabia que se tratava de
“começo de começo”, em relação ao estudo sobre o tema, mas de obra da
maturidade do autor — ele completava 50 anos em 1968 — “movida
apenas pela alegria de saldar uma dívida, cujas origens se perdem na infância
do autor”. E sabia, ainda, que essa deficiência de seu ensaio estava a indicar
inúmeras possibilidades de pesquisa, em diferentes áreas; ou que o excesso de
inventariação poderia justificar a utilidade do ensaio, por seu
valor histórico
irrecusável – pelo menos o de tentar salvar do tempo uma enorme quantidade de
elementos capazes de servir a um analista ou historiador literário para uma
obra definitiva, ou quase definitiva, sobre a literatura infantil brasileira.
O engajamento do autor em sua época, ou, talvez, as deficiências e as
limitações por ele reconhecidas, ou, ainda, o conceito amplo de literatura
infantil e o estabelecimento de sistema evolutivo a que se subordina a
literatura infantil, alguns ou todos esses aspectos podem ser responsabilizados
por ressalvas ao ensaio de Arroyo, do ponto de vista de leitores de hoje.
Mas é justamente esse engajamento em sua época e no projeto para o país
nela acalentado que confere ao ensaio seu caráter inaugural e pioneiro,
derivado da formulação — de um ponto de vista até então inédito — de um objeto
de investigação, de uma versão da história da literatura infantil brasileira e
de um tipo de abordagem histórica da literatura infantil.
E é também dessas características “de fundo” que derivam as
inquestionáveis qualidades e a reiterada atualidade do livro: inaugura a
tradição tanto de abordagem histórica da literatura infantil quanto de
formulação de um objeto específico — a literatura infantil brasileira —
com base na configuração do correspondente fenômeno em nosso país, o qual o
autor busca compreender; e recupera, reúne e interpreta, pioneiramente, farto
conjunto de fontes documentais até então desconhecidas ou dispersas.
Coincidência, ou não, a partir da publicação da primeira edição do livro, em
1968, relacionadamente com mudanças significativas no âmbito político e social,
ocorridas no Brasil e em outros países, teve início processo de discussão e
proposição, em novas bases, de soluções para os problemas da educação e da
leitura em nosso país. Apesar do diferente contexto político e social, Arroyo
também participou desse momento de discussão, seja por meio da circulação e
utilização de Literatura infantil brasileira, seja por meio de sua
atuação direta em novos espaços acadêmicos e editorias de produção, circulação
e discussão da literatura infantil, como exemplifica sua participação, em 1972,
no júri do Prêmio “Hans Christian Andersen” do International Board on
Books for Children (IBBY), como especialista brasileiro indicado pela
Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
Desse clima favorável à expansão da produção de e sobre literatura
infantil brasileira derivam iniciativas também contundentes, como, por exemplo:
o “boom” da produção de livros de literatura infantil e de editoras
especializadas nessas publicações, a partir da década de 1970; o alargamento da
circulação e utilização de livros de literatura infantil, predominantemente
como leitura “paradidática”, em diferentes níveis e graus de ensino escolar
destinado a crianças; a criação de programas governamentais de incentivo à
leitura de livros de literatura infantil; a criação, em 1968, da FNLIJ, seção
brasileira do IBBY, e do Centro de Estudos de Literatura Infantil e
Juvenil (CELIJU); a fundação, em 1978, da Academia Brasileira de Literatura
Infantil e Juvenil; e a publicação de estudos sobre literatura
infantil que se tornaram referências obrigatórias assim como seus autores,
atuantes em diferentes áreas do conhecimento e vinculados a diferentes
instituições de ensino e pesquisa brasileiras: Eliana Yunes (1980); Nelly N.
Coelho (1981; 1983), Regina Zilberman (1981), Regina Zilberman e Lígia
Cadermatori (1981), Marisa Lajolo (1982), Marisa Lajolo e Regina Zilberman
(1984; 1986), Fúlvia Rosenberg (1985), Lígia Cadermatori (1986), Edmir Perroti
(1986; 1990), Marisa Lajolo e João L. Ceccantini (2009).
Em decorrência desse conjunto de iniciativas e considerando o acentuado
crescimento, nas últimas décadas, da produção acadêmico-científica vinculada a
diferentes programas de pós-graduação das Ciências Humanas, vem-se constituindo
um corpo básico de conhecimentos sobre literatura infantil e temas correlatos,
no qual se pode constatar a marca, menos ou mais explícita, do pensamento de
Arroyo contido no livro em questão.
Esse lugar que conquistou na bibliografia sobre literatura infantil brasileira e na historiografia sobre o tema pode ser constatado, dentre outros exemplos: nas milhares de citações do livro ou de menções a ele, a seu autor e ao conjunto de sua obra; e no espaço a ele dedicado em obras que também já se tornaram clássicos, como, por exemplo: o verbete destinado a Leonardo Arroyo, no Dicionário crítico de literatura infantil, de N. N. Coelho, e a dedicatória ao “mestre e pioneiro nos estudos de literatura infantil brasileira” contida em Literatura infantil brasileira: história & histórias, de M. Lajolo e R. Zilberman.
***
Literatura infantil brasileira, de Leonardo Arroyo,
é, indubitavelmente, um clássico da historiografia da literatura infantil
brasileira, tendo-se tornado também referência obrigatória na produção
acadêmico-científica brasileira sobre outros aspectos do tema — teoria e
crítica da literatura infantil, literatura infantil e ensino, literatura
juvenil — e sobre tantos outros temas correlatos.
Ao longo de mais de quatro décadas, foram-se ampliando a destinação e a
circulação previstas e efetivadas em relação a esse livro, acompanhando a
crescente importância da literatura infantil (e juvenil) para os envolvidos com
atividades educacionais, editoriais e acadêmico-científicas em nosso país.
Os resultados do trabalho investigativo de Arroyo, de atualidade sempre
renovada, continuam suscitando, em diferentes gerações de pesquisadores e professores,
motivos para reflexão crítica e ampliando as possibilidades de formulação de
temas e problemas de investigação, em diferentes campos de conhecimento na área
das humanidades.
Assim, ampliou-se a condição inicial de “livro básico”, que lhe foi
reconhecidamente conferida, podendo-se hoje constatar seu lugar proeminente na
“classe” de estudos cuja tradição inaugurou, para cuja elaboração contribuiu e
pelos quais continua sendo autorizado e abonado.
No âmbito da historiografia da literatura infantil, esse lugar de
excelência ocupado pelo livro decorre, sobretudo, de seu caráter inaugural e
pioneiro, configurado pela conjunção das principais qualidades do trabalho
empreendido pelo autor.
Para as gerações de pesquisadores e professores atuantes, em diferentes
áreas, nas últimas décadas, dessas qualidades têm derivado diferentes formas de
utilização do livro: como inspiração e ponto de partida para o desenvolvimento
de estudos históricos stricto sensu sobre o tema, como obra de
referência para consulta de informações ou para sumarização de fatos e
interpretações da história da literatura infantil e da “literatura escolar”
brasileiras, como fonte documental secundária, uma espécie de “fonte das
fontes”, que abrevia o trabalho de pesquisadores relativamente à localização e
à recuperação de fontes primárias para seus estudos.
E, devido mais acentuadamente ao conjunto de fontes disponibilizado pelo
autor, esse livro tem-se caracterizado também como referência obrigatória no
âmbito da produção acadêmico-científica sobre temas vinculados ou correlatos à
literatura infantil, resultante de pesquisas desenvolvidas em outras áreas e
campos das Ciências Humanas, com destaque para as relativas à história da
educação e à história da cultura brasileiras.
Dentre as possibilidades de estudo que o livro propicia, porém, não se
têm notícias de que já tenha sido abordado, ele mesmo, considerando-se seu
inquestionável valor como documento histórico.
Necessário que é, estudo dessa natureza demanda intensa e extensa
pesquisa documental, com o objetivo de localizar, recuperar, reunir e analisar
informações sobre muitos dos aspectos brevemente apontados nesta Apresentação,
tais como, dentre tantos outros: a trajetória editorial do livro, a história de
sua leitura, o conceito de literatura infantil em que se baseia o
autor, a fortuna crítica do autor.
Ainda por ser feito, estudo dessa natureza certamente poderá contribuir
para a compreensão, dentre outros, do significado histórico do pensamento do
autor sobre literatura infantil, na relação com o conjunto de sua obra, o
conjunto da produção brasileira e estrangeira sobre literatura infantil e o
conjunto da produção sobre o pensamento social e educacional brasileiro
produzido, em meados do século XX, pela geração de intelectuais e escritores
que Arroyo integrou. Assim, poderá contribuir para se ampliar a compreensão do
caráter inaugural e pioneiro do livro e de sua permanência no tempo.
Conforme o que aqui expus, a despeito da forma necessariamente
sintética, a repercussão do livro ao longo desses 43 anos vem confirmar muitas
das “profecias” relativas a sua utilidade e a suas possibilidades de
circulação, assim como evidencia muitos caminhos de estudo e pesquisa ainda
inexplorados, como os sugeridos ou sequer vislumbrados por seu autor.
Considerando o já feito e o muito que ainda se pode fazer com esse
inestimável legado de Leonardo Arroyo, a oportuna publicação desta terceira edição – que tive a honra de apresentar – vem contribuir significativamente
para a configuração de uma “terceira” e mais complexa geração de leitores,
entre pesquisadores, professores, bibliotecários e demais interessados no
assunto.
Contando com as contribuições das gerações anteriores e engajados no contexto deste novo século e novo milênio, os dessa nova geração que acolherem o convite representado por esta relevante iniciativa da Editora UNESP certamente têm ainda muito a explorar e para além das possibilidades que tanto o autor de Literatura infantil brasileira quanto nós, leitores formados no século XX, pudemos pensar, até aqui.
Marília/SP, 16 de fevereiro de 2011
Maria R. L. Mortatti