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LEONARDO ARROYO: UM CLÁSSICO DA HISTORIOGRAFIA DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA

Apresentação à terceira edição
do livro Literatura infantil brasileira, de Leonardo Arroyo
3ª. edição rev. e ampl., Editora Unesp, 2011. *

Literatura infantil brasileira, de Leonardo Arroyo (1918 – 1985), é um clássico da historiografia da literatura infantil brasileira.

A primeira edição desse livro foi publicada em 1968, pela Edições Melhoramentos, com o subtítulo “ensaio de preliminares para sua história e suas fontes”, prefácio do autor e ensaio introdutório, assinado pelo educador Manoel Bergström Lourenço Filho, para quem os méritos do livro lhe conferem “na bibliografia da especialidade uma posição de real preeminência, a de um estudo básico”.

Com ilustração de capa assinada por Gioconda Uliana Campos e ilustrado internamente com imagens de raras e valiosas fontes documentais utilizadas pelo autor, o livro integrava a Série “Grandes textos” da prestigiada Coleção “Biblioteca de Educação”, criada, em 1927, organizada e dirigida por Lourenço Filho. Em consonância com a estreita relação entre Educação, Psicologia e Sociologia, como se constata por exemplo na relação de títulos apresentada na quarta capa, o objetivo dessa coleção era a “formação de um conjunto de obras de grande interesse e utilidade para estudantes e professores, assim como aos que se interessam pelos conhecimentos fundamentais da Educação”,

Essas destinação e circulação previstas para a área de Educação, predominantemente, são reafirmadas no texto de orelha — “servirá como leitura complementar para os estudantes de Literatura de nossas Faculdades de Filosofia, bem como a professores e a leigos interessados no tema” — e, no ensaio introdutório, ainda que Lourenço Filho também indique a leitura a “sociólogos, historiadores e homens de letras”.

A segunda edição do livro foi publicada em 1988, também pela Melhoramentos, com algumas diferenças, sobretudo no projeto gráfico, em relação à anterior: formato menor; capa ilustrada com reprodução da ilustração da capa de um dos volumes da coleção “Biblioteca Infantil” criada em 1915, pelo professor Arnaldo O. Barreto, e publicada pela mesma editora; inclusão, na capa, do nome de Lourenço Filho como autor da apresentação; supressão do subtítulo na folha de rosto, supressão da indicação de pertencimento à Biblioteca da Educação; inclusão de informações sobre o autor e atualização da relação de suas obras.

Além dessas modificações, foi acrescentada nota de apresentação da edição e foi substituído o texto da quarta capa. Considerando-se a repercussão do livro ao longo dos 20 anos de intervalo entre as duas edições, todas essas modificações contribuíram para ampliação a destinação e a circulação pretendidas para o livro, desta vez  predominantemente para o campo dos estudos literários relacionados com educação, como se pode observar, por exemplo, na nota de apresentação e no texto da quarta capa.

Na “Nota”, assinada por Glória Pondé, professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, são destacadas, como qualidades do livro: a inventariação documental crítica exaustiva, a articulação entre perspectiva periodológica e a “situação histórico-social-educativa do país na época, comparando-a com os movimentos culturais existentes no exterior”, que torna o livro um “documento raro e precioso, que resgata  para os pesquisadores de todas as áreas a história social do país” e o fato de apresentar mais do que história da literatura infantil brasileira, uma “história da pedagogia brasileira”.

No texto de quarta capa, caracteriza-se o livro como “obra fundamental para pesquisadores de todas as áreas das ciências humanas”, “um importante documento, de leitura indispensável para aqueles que buscam as raízes da formação social brasileira”; e, ainda na quarta capa, tem-se a seguinte avaliação que Nelly Novaes Coelho, professora de Teoria Literária na Universidade Estadual Paulista – Marília e na Universidade de São Paulo, ensaísta, crítica literária e autora do notável Dicionário Crítico da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira (1983), faz do livro: “... tem servido de base ou ponto de partida obrigatório a tudo quanto se tem publicado sobre o assunto, desde então”.

Publicada 13 anos após a anterior, esta terceira edição, pela Editora Unesp, contém poucas modificações em relação à anterior: acréscimo desta apresentação, de texto de orelha assinado por João Luis Ceccantini, atualização de alguns dados relacionados à bibliografia sobre o autor e sua obra, além das relativas aos aspectos de composição gráfico.

Essa iniciativa editorial vem acrescentar substanciosa contribuição ao catálogo dessa destacada editora universitária brasileira, do qual constam também importantes títulos sobre literatura infantil, dentre os quais, Monteiro Lobato, livro a livro: obra infantil, organizado por Marisa Lajolo e João Luís Ceccantini, ambos professores da área de Estudos Literários, ela na Universidade Estadual de Campinas e Universidade Mackenzie; ele, na Universidade Estadual Paulista. Publicado em coedição com Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, esse livro foi contemplado, em 2009, com o Prêmio Jabuti nas categorias “Teoria e Crítica Literária” e “Melhor Livro do Ano – Não-ficção”.

E, ao mesmo tempo, essa publicação vem propiciar condições de ampliação das possibilidades de circulação do livro entre leitores de outras gerações e de outras áreas, além da de Educação e dos campos dos estudos literários, históricos e sociológicos, nos quais essa circulação e repercussão já se encontram consolidadas. 

Embora se tenham modificado as condições sociais, culturais e educacionais do momento histórico em que Arroyo produziu o ensaio e embora se tenham esgotado os exemplares das edições anteriores, o livro continua sendo recorrentemente utilizado, por meio da leitura de exemplares que integram acervos pessoais de estudiosos e pesquisadores e acervos de bibliotecas universitárias, sobretudo.

Literatura infantil brasileira continua, portanto, atual e necessário, como “profetizavam” o autor do livro e o autor de seu ensaio introdutório. 

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Em seu prefácio, Arroyo explicita compreensão das grandezas e limites do ambicioso trabalho que desenvolvera individualmente, ao longo de vários anos, coletando e reunindo fontes de diferentes tipos relativamente à literatura infantil “em sua acepção ampla”: "todo quanto se dê à criança a ler, e, mais, todas as formas literárias da tradição oral, ou do folclore, tenham elas formas recreativas ou didáticas, ou ambas, caberá na rubrica de literatura infantil.” Assim, a literatura infantil, “como qualquer outra expressão literária, decorre de condições sociais em seu conceito mais amplo.”

Com base nesse conceito, Arroyo formula um objeto de investigação — literatura infantil brasileira — em relação direta com o método de investigação e de exposição adotados. A formulação desse objeto e a elaboração do ensaio se situam em momento no qual já estava consolidada e reconhecida a obra de Arroyo, como jornalista, historiador, ensaísta, contista e autor de livros de literatura infantil, e sua  interlocução com ilustres nomes representativos do efervescente movimento em torno da constituição de um projeto para o país, que configurou o pensamento social brasileiro e, em torno dele, o movimento cultural, literário e editorial da época. Dentre esses nomes, podem-se destacar, por exemplo: Lourenço Filho, Fernando de Azevedo, Luís da Câmara Cascudo, Mário de Andrade, Sérgio Buarque de Hollanda, Gilberto Freyre, Antonio Cândido, Raimundo de Menezes, Ernani Silva Bruno, Francisco Marins, Octales Marcondes Ferreira.

Buscando responder a perguntas de seu tempo, Arroyo produz uma versão da história da literatura infantil brasileira. Essa história, o autor a caracteriza como processo evolutivo complexo e diversificado “em face das numerosas áreas culturais brasileiras e prevalência transregional dos elementos característicos da educação”. E, nesse processo evolutivo, identifica fases, de acordo com sua sucessão (complexamente linear) no tempo: a literatura oral, a literatura escolar, a imprensa escolar e infantil e, por fim, a “maturidade de nossa literatura infantil”, a partir da publicação, em 1921, de Narizinho Arrebitado, de Monteiro Lobato. Ou, nas palavras de Lourenço Filho, desde suas preliminares até a “reação nacional” na literatura infantil, “iniciada em fins do século XIX com livros mais difundidos na forma industrializada, com autores, temas e linguagem crescentemente brasileiros, caracterizando período inicial de transição entre livros propriamente didáticos e outros, já de maior valor artístico”.

A partir dessa tese defendida e demonstrada por Arroyo, estava, então, posta, de forma sistemática e programática, a questão nuclear: a ambiguidade fundante da literatura infantil brasileira, de que decorre sua oscilação entre gênero didático e gênero literário e o correspondente esforço de autores e pesquisadores em propor caminhos de superação do didatismo em favor da literariedade dos textos desse gênero.

Essa questão já estava presente na escassa produção brasileira sobre o tema, anterior à publicação do livro de Arroyo e com a qual manteve interlocução direta, além daquela por ele estabelecida indiretamente com o “rol bibliográfico competente de obras publicadas na França, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Espanha, na Alemanha e, principalmente, na Itália”.

No que se refere à produção brasileira sobre o tema, contava-se, até a década de 1960, com iniciativas esparsas, predominantemente vinculadas a ou motivadas por necessidades e pontos de vista educacionais e didático-pedagógicos, algumas delas contundentes, como, por exemplo: na esfera institucional, a criação, em 1936, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, da Comissão Nacional de Literatura Infantil; a inclusão gradativa da matéria “Literatura infantil” nos Cursos Normais, inicialmente nos estados do Rio de Janeiro (1932) e São Paulo (1946); e, na esfera editorial, a publicação, relativa ao tema, do capítulo de livro de Afrânio Peixoto (1923), dos artigos de Lourenço Filho (1943) e de Fernando de Azevedo (1952), do livro de Cecília Meireles (1949), da bibliografia de Lenyra Fraccaroli (1951), dos manuais de ensino de Antônio d’Ávila (1957) e de Bárbara V. Carvalho (1959).

É, porém, a partir de seu ensaio que a questão da ambiguidade fundante da literatura infantil brasileira assume importância nuclear, em torno da qual, predominantemente, desenvolveram-se estudos posteriores e se vem constituindo um campo de conhecimento específico e interdisciplinar, envolvendo, em especial, as áreas de Educação, Letras, Psicologia, Biblioteconomia, História da Educação.

Assim engajado nas complexas discussões de sua época e nas não menos complexas questões que então se formulavam, Arroyo volta sua atenção para um tema cuja compreensão estava a demandar explicações mais aprofundadas. Desse novo “lugar” que passa a ocupar, produz o que não pretendia fosse “obra definitiva”, nem “amplamente, uma história” da literatura infantil brasileira, mas somente um “ensaio de preliminares para a sua história e suas fontes”, que, conforme o plano original, seria completado com uma Antologia da Literatura Infantil Brasileira.

Arroyo reconhecia as qualidades e as limitações de sua iniciativa, sabia que o farto, disperso e desconhecido conjunto de fontes documentais que coletara e reunira se caracterizava como “o suficiente para um estudo pioneiro, embora muitas vezes deficiente por pretender cobrir toda a área cultural brasileira, sobre literatura infantil brasileira”. Sabia que se tratava de “começo de começo”, em relação ao estudo sobre o tema, mas de obra da maturidade do autor — ele completava 50 anos em 1968 —  “movida apenas pela alegria de saldar uma dívida, cujas origens se perdem na infância do autor”. E sabia, ainda, que essa deficiência de seu ensaio estava a indicar inúmeras possibilidades de pesquisa, em diferentes áreas; ou que o excesso de inventariação poderia justificar a utilidade do ensaio, por seu 

valor histórico irrecusável – pelo menos o de tentar salvar do tempo uma enorme quantidade de elementos capazes de servir a um analista ou historiador literário para uma obra definitiva, ou quase definitiva, sobre a literatura infantil brasileira. 

O engajamento do autor em sua época, ou, talvez, as deficiências e as limitações por ele reconhecidas, ou, ainda, o conceito amplo de literatura infantil e o estabelecimento de sistema evolutivo a que se subordina a literatura infantil, alguns ou todos esses aspectos podem ser responsabilizados por ressalvas ao ensaio de Arroyo, do ponto de vista de leitores de hoje.

Mas é justamente esse engajamento em sua época e no projeto para o país nela acalentado que confere ao ensaio seu caráter inaugural e pioneiro, derivado da formulação — de um ponto de vista até então inédito — de um objeto de investigação, de uma versão da história da literatura infantil brasileira e de um tipo de abordagem histórica da literatura infantil.

E é também dessas características “de fundo” que derivam as inquestionáveis qualidades e a reiterada atualidade do livro: inaugura a tradição tanto de abordagem histórica da literatura infantil quanto de formulação de um objeto específico — a literatura infantil brasileira — com base na configuração do correspondente fenômeno em nosso país, o qual o autor busca compreender; e recupera, reúne e interpreta, pioneiramente, farto conjunto de fontes documentais até então desconhecidas ou dispersas.

Coincidência, ou não, a partir da publicação da primeira edição do livro, em 1968, relacionadamente com mudanças significativas no âmbito político e social, ocorridas no Brasil e em outros países, teve início processo de discussão e proposição, em novas bases, de soluções para os problemas da educação e da leitura em nosso país. Apesar do diferente contexto político e social, Arroyo também participou desse momento de discussão, seja por meio da circulação e utilização de Literatura infantil brasileira, seja por meio de sua atuação direta em novos espaços acadêmicos e editorias de produção, circulação e discussão da literatura infantil, como exemplifica sua participação, em 1972, no júri do Prêmio “Hans Christian Andersen” do International Board on Books for Children (IBBY), como especialista brasileiro indicado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Desse clima favorável à expansão da produção de e sobre literatura infantil brasileira derivam iniciativas também contundentes, como, por exemplo: o “boom” da produção de livros de literatura infantil e de editoras especializadas nessas publicações, a partir da década de 1970; o alargamento da circulação e utilização de livros de literatura infantil, predominantemente como leitura “paradidática”, em diferentes níveis e graus de ensino escolar destinado a crianças; a criação de programas governamentais de incentivo à leitura de livros de literatura infantil; a criação, em 1968, da FNLIJ, seção brasileira do IBBY, e do Centro de Estudos de Literatura Infantil e Juvenil (CELIJU); a fundação, em 1978, da Academia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil;  e a publicação de estudos sobre literatura infantil que se tornaram referências obrigatórias assim como seus autores, atuantes em diferentes áreas do conhecimento e vinculados a diferentes instituições de ensino e pesquisa brasileiras: Eliana Yunes (1980); Nelly N. Coelho (1981; 1983), Regina Zilberman (1981), Regina Zilberman e Lígia Cadermatori (1981), Marisa Lajolo (1982), Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1984; 1986), Fúlvia Rosenberg (1985), Lígia Cadermatori (1986), Edmir Perroti (1986; 1990), Marisa Lajolo e João L. Ceccantini (2009).

Em decorrência desse conjunto de iniciativas e considerando o acentuado crescimento, nas últimas décadas, da produção acadêmico-científica vinculada a diferentes programas de pós-graduação das Ciências Humanas, vem-se constituindo um corpo básico de conhecimentos sobre literatura infantil e temas correlatos, no qual se pode constatar a marca, menos ou mais explícita, do pensamento de Arroyo contido no livro em questão.

Esse lugar que conquistou na bibliografia sobre literatura infantil brasileira e na historiografia sobre o tema pode ser constatado, dentre outros exemplos: nas milhares de citações do livro ou de menções a ele, a seu autor e ao conjunto de sua obra; e no espaço a ele dedicado em obras que também já se tornaram clássicos, como, por exemplo: o verbete destinado a Leonardo Arroyo, no Dicionário crítico de literatura infantil, de N. N. Coelho, e a dedicatória ao “mestre e pioneiro nos estudos de literatura infantil brasileira” contida em Literatura infantil brasileira: história & histórias, de M. Lajolo e R. Zilberman. 

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Literatura infantil brasileira, de Leonardo Arroyo, é, indubitavelmente, um clássico da historiografia da literatura infantil brasileira, tendo-se tornado também referência obrigatória na produção acadêmico-científica brasileira sobre outros aspectos do tema — teoria e crítica da literatura infantil, literatura infantil e ensino, literatura juvenil — e sobre tantos outros temas correlatos.

Ao longo de mais de quatro décadas, foram-se ampliando a destinação e a circulação previstas e efetivadas em relação a esse livro, acompanhando a crescente importância da literatura infantil (e juvenil) para os envolvidos com atividades educacionais, editoriais e acadêmico-científicas em nosso país.

Os resultados do trabalho investigativo de Arroyo, de atualidade sempre renovada, continuam suscitando, em diferentes gerações de pesquisadores e professores, motivos para reflexão crítica e ampliando as possibilidades de formulação de temas e problemas de investigação, em diferentes campos de conhecimento na área das humanidades.

Assim, ampliou-se a condição inicial de “livro básico”, que lhe foi reconhecidamente conferida, podendo-se hoje constatar seu lugar proeminente na “classe” de estudos cuja tradição inaugurou, para cuja elaboração contribuiu e pelos quais continua sendo autorizado e abonado.

No âmbito da historiografia da literatura infantil, esse lugar de excelência ocupado pelo livro decorre, sobretudo, de seu caráter inaugural e pioneiro, configurado pela conjunção das principais qualidades do trabalho empreendido pelo autor.

Para as gerações de pesquisadores e professores atuantes, em diferentes áreas, nas últimas décadas, dessas qualidades têm derivado diferentes formas de utilização do livro: como inspiração e ponto de partida para o desenvolvimento de estudos históricos stricto sensu sobre o tema, como obra de referência para consulta de informações ou para sumarização de fatos e interpretações da história da literatura infantil e da “literatura escolar” brasileiras, como fonte documental secundária, uma espécie de “fonte das fontes”, que abrevia o trabalho de pesquisadores relativamente à localização e à recuperação de fontes primárias para seus estudos.

E, devido mais acentuadamente ao conjunto de fontes disponibilizado pelo autor, esse livro tem-se caracterizado também como referência obrigatória no âmbito da produção acadêmico-científica sobre temas vinculados ou correlatos à literatura infantil, resultante de pesquisas desenvolvidas em outras áreas e campos das Ciências Humanas, com destaque para as relativas à história da educação e à história da cultura brasileiras.

Dentre as possibilidades de estudo que o livro propicia, porém, não se têm notícias de que já tenha sido abordado, ele mesmo, considerando-se seu inquestionável valor como documento histórico.

Necessário que é, estudo dessa natureza demanda intensa e extensa pesquisa documental, com o objetivo de localizar, recuperar, reunir e analisar informações sobre muitos dos aspectos brevemente apontados nesta Apresentação, tais como, dentre tantos outros: a trajetória editorial do livro, a história de sua leitura,  o conceito de literatura infantil em que se baseia o autor, a fortuna crítica do autor.

Ainda por ser feito, estudo dessa natureza certamente poderá contribuir para a compreensão, dentre outros, do significado histórico do pensamento do autor sobre literatura infantil, na relação com o conjunto de sua obra, o conjunto da produção brasileira e estrangeira sobre literatura infantil e o conjunto da produção sobre o pensamento social e educacional brasileiro produzido, em meados do século XX, pela geração de intelectuais e escritores que Arroyo integrou. Assim, poderá contribuir para se ampliar a compreensão do caráter inaugural e pioneiro do livro e de sua permanência no tempo.

Conforme o que aqui expus, a despeito da forma necessariamente sintética, a repercussão do livro ao longo desses 43 anos vem confirmar muitas das “profecias” relativas a sua utilidade e a suas possibilidades de circulação, assim como evidencia muitos caminhos de estudo e pesquisa ainda inexplorados, como os sugeridos ou sequer vislumbrados por seu autor.

Considerando o já feito e o muito que ainda se pode fazer com esse inestimável legado de Leonardo Arroyo, a oportuna publicação desta terceira edição –  que tive a honra de apresentar – vem contribuir significativamente para a configuração de uma “terceira” e mais complexa geração de leitores, entre pesquisadores, professores, bibliotecários e demais interessados no assunto.

Contando com as contribuições das gerações anteriores e engajados no contexto deste novo século e novo milênio, os dessa nova geração que acolherem o convite representado por esta relevante iniciativa da Editora UNESP certamente têm ainda muito a explorar e para além das possibilidades que tanto o autor de Literatura infantil brasileira quanto nós, leitores formados no século XX, pudemos pensar, até aqui. 

Marília/SP, 16 de fevereiro de 2011

Maria R. L. Mortatti