Como se fosse esta noite a última vez. Eu queria muito cantar. Meu presente de Natal. Escolhi o repertório. Ensaiei por muitas horas. Letra, tonalidade e melodia. Para começar, como "vocalize": "Tiro ao Álvaro" e "Desafinado". Depois, boleros: "Tu me acostumbraste", "Quizás", "Bésame mucho", "A camisola do dia", "Negue", "Último desejo". Para encerrar: "Fascinação", "Ne me quite pas", "La nuit de mon amour", "Boa noite, amor". Era tudo o que eu queria cantar. Por hoje. Vesti-me de primavera, como "l'arbre qui se dresse/plein de force et de tendresse/vers le jour qui va venir." Não veio. Já é verão. Esqueci de "combinar com os russos". Bar karaokê fechado. Hoje não é dia de cantoria. Só amanhã. Voltei para casa. Frustrada. Decepcionada. Inconformada. Não posso esperar. Nos bastidores, cantei, cantei, cantei "até ficar com dó de mim". E li Anna Akhmátova, que suscitou em mim "de repente, essa vida que nunca aconteceu". Tenho provas: uma "selfie" no espelho e o vídeo lendo o poema “Terceira” (das “Elegias do Norte”) gravado no escritório*. É tudo. Por hoje. Amanhã há de ser outro dia. Cheio de cantoria e poesia.
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EU QUERIA CANTAR
Maria Mortatti - 21.12.2021