Foi no final dos anos 1980 que conheci Michel Thiollent – poeta, professor e sociólogo francês, radicado no Brasil –, por meio de seu livro Metodologia da pesquisa-ação (Cortez/Autores Associados, 1985), que representou para mim – e posso dizer para os daquela geração e seguintes – o ovo de colombo da pesquisa em Ciências Humanas. Foi a fundamentação metodológica de minha pesquisa e da tese de doutorado em Educação, orientada por João Wanderley Geraldi, que defendi em 1991, na Unicamp, e foi publicada no livro Em sobressaltos: formação de professora (Editora da Unicamp, 1993, 1997; com 3ª. edição rev. e ampl., pela Cultura Acadêmica/Of. Universitária, em 2019). Trata-se de um “estudo de caso” apresentado de acordo com as características da epopeia, enfocando a formação de uma professora de língua e literatura. Os motivos de meu encantamento com a metodologia da pesquisa-ação estão apresentados em vários trechos da tese, cuja estrutura textual se assemelha à da epopeia – proposição, invocação, narração, epílogo. E Michel Thiollent é uma das inspirações, e trecho de seu livro é citado na Invocação, entre Machado de Assis e Tchekhov.
E foi no dia do lançamento de Prosa de leitora – Sobre livros, autores e outros acepipes – vol. 1 (Scortecci Editora, 2023), que tive a honra de conhecê-lo pessoalmente. Aceitou o convite desta sua leitora e me proporcionou imensa alegria. Tive, assim, a oportunidade de lhe contar sobre a importância de seu livro para a tese e minha formação e atuação como pesquisadora e formadora de professores e pesquisadores. E foi então que outra descoberta me encantou. Presenteou-me com um de seus livros de poesia Cahiers de poèsie 2 e uma dedicatória inesquecível. Então era isso! Em “Metodologia da pesquisa-ação”, encontrei a alma do poeta, que se me revelou 32 anos depois, naquela noite e nas publicações que depois compartilhamos, como Em sobressaltos e seu Cahiers de poèsie 1966 – 1976 e Poesia em territórios áridos, poemas que traduziu. E, em companhia do flâneur, embebida de poesia, tornei-me leitora e admiradora também do poeta Michel Thiollent.
Avec le temps é o título de uma célebre canção francesa, do poeta e músico franco-menegasco Léo Férre (1916 – 1993), citada por Thiollent em Cahiers de poèsie 2. “Avec le temps, va, tout s'en va” (“Com o tempo, tudo se vai”) é um melancólico verso-refrão nessa canção. De fato, com o passar do tempo, vão-se nossas crenças, certezas e amores. “O que fica, porém, é o que os poetas fundam.” (F. Hölderlin). E a amizade embebida de poesia, também.
Maria Mortatti – 16.12.2023