Será que fui eu?, de Alzira Silvéria (Scortecci Editora, 2005)
Alzira Silvéria foi minha vizinha de condomínio por muitos anos. Mudou-se recentemente, mas sempre me lembro de nossos encontros, em suas caminhadas ao sol, e do livro de memórias autobiográficas Será que fui eu?, com que ela me presenteou.
É um livro para reler sempre. As memórias de Alzira representam a força e a determinação dessa mulher negra, "semianalfabeta", nascida no início da década de 1930 na cidade de São Lourenço (MG) e que, por ser "filha de mãe solteira", foi adotada, com cinco anos de idade, por um rico fazendeiro; aos 10 anos de idade, caiu de uma goiabeira e sofreu fratura na perna, causando-lhe dificuldades de locomoção. Mas não desistiu. Sua vida de muita luta e trabalho está registrada nesse livro inspirador, que é também um pungente registro da história do país, vivida por muitas brasileiras e brasileiros, no século passado.
Nas palavras de seu neto, o professor Acauam Oliveira, na quarta-capa do livro: “Nessas páginas delicadas de um lirismo profundo, iremos encontrar, nas entrelinhas, a face obscura do nacional desenvolvimentismo, contada por quem viveu a parte silenciada da história. Pode-se ter uma ideia do imenso valor sociológico do relato, mas seu valor humano ultrapassa qualquer consideração acadêmica."
Livro atual e necessário. Recomendo!
Como retribuição em forma de homenagem a Alzira, escrevi um artigo com análise detalhada do livro. Está disponível em: Mortatti, M. (2013). O livro de Alzira. Educação (UFSM), 38(1), 55-73. doi:https://doi.org/10.5902/198464445864
Maria Mortatti - 04.04.2020