(ou: Dov'è la mia prima patria?)
Depois de meu post sobre livros dos amigos
italianos, comecei a ler um deles. “Per conservare la fede dei padri...”, de
Roberto Sani. O subtítulo e a foto da capa evocaram minha condição de
descendente de imigrantes italianos. Retomei a busca em meu baú. Esbarrei em
antigas indagações sobre meu avô paterno, Giorgio Mortati (1871-1953). Não o
conheci, nem ao avô materno. Sobre este sabia um pouco mais. Por meio dele, eu
e outros familiares obtivemos cidadania italiana. Sobre o avô paterno,
familiares localizaram informações há alguns anos, quando solicitaram cidadania
italiana. A descoberta inicial: seu nome não era Jorge, e seu sobrenome
original não tinha duplo “T”.
Por coincidência, foi nessa época que conheci
Roberto Sani (Universidade de Macerata - Itália). Perguntou-me sobre a relação entre meu
sobrenome e o de Costantino Mortati (1891-1985), famoso jurista, advogado e
acadêmico italiano, que foi professor e reitor da Universidade de Macerata,
além de outras universidades italianas.
Eu não sabia e também fiquei curiosa. Até hoje
localizei pouca coisa: dados pessoais, livros seus, textos com análises sobre
seu pensamento jurídico e informações sobre sua atuação: “professor
universitário, autor do famoso ensaio “A constituição no sentido material”
(1940), deputado (1946) pela Democracia Cristã na Assembleia Constituinte
italiana, presidente do Tribunal de Contas; um dos juristas italianos de maior
autoridade do século XX.”*
Mas a informação mais importante para minha
pesquisa genealógica-afetiva talvez seja esta: o reconhecido jurista italiano é
de origem arbëreshë (minoria étnico-linguística albanesa), nasceu na província
de Cosenza, região da Calábria. Também eram calabreses meu avô paterno, Giorgio
Mortati, e o materno, Orazio Michelangelo Longo. O dialeto de ambos – lembro
bem - era motivo de duras críticas de minhas avós. Quando eu perguntava sobre
eles, diziam que eram bravos, amargos, carrancudos e conversavam entre si “com
fala arrastada e língua enrolada”, uma espécie de "criptoleto", para suas esposas não saberem os segredos
que compartilhavam...
Continuo regando minha árvore genealógica, mas
ainda sei muito pouco sobre Giorgio Mortati. Não tenho respostas às perguntas
que me vêm do outro lado o Atlântico. E provavelmente nunca as terei. Ficaram
perdidas, como o passado que meus avôs queriam sepultar, quando emigraram para
a América. Mas continuo perguntando: dov'è la mia prima patria?
Maria Mortatti – 18.10.2020