Manhã de sábado. Caminhada habitual. Decidi tentar outro percurso e outra praça. Em busca do “golpe da graça”*. Há meses pensando, pensando, pensando sobre os originais do livro Mulher enlouquecida** que perdi com o sumiço repentino dos arquivos daquele HD externo. Inúteis as tentativas de copiá-lo com exata memória.
Como G.H., venho procurando, procurando, tentando entender. O arquivos continuam irrecuperados. Mas não desisti. À noite, repentinamente, uma mensagem vinda de longe, em meio a outro assunto, iluminou o caminho. Bem aqui, ao meu lado. Naquele livro que li há 30 anos. Retomei-o, folheei e deparei com os defeitos de impressão. Lembrei que, apesar da chateação, não me impediram de ler na primeira vez nem de reler na noite em que – pelas mãos do mensageiro – recebi a chave do cárcere. Nas seis páginas em branco, salteadas e escondidas no meio do exemplar, estava o chamado: “Liberte-me! Escreva-me!”.
Aquele mesmo livro que se perdeu, reencontrei-o como outro, renascendo com o “golpe da graça”. E ao livro imaginário com a narrativa da procura por Mulher enlouquecida e da tentativa de “dar a alguém o que vivi”* caberia intitular, com a devida licença poética: A paixão segundo M.M..
MARIA MORTATTI – 03.07.2021
----------------*Citações do livro A paixão segundo G. H., de Clarice Lispector.
** Mulher enlouquecida é o terceiro volume da trilogia Essa Mulher. Já publicados: v. 1 - Mulher Emudecida - contos (Scortecci Editora, 2021) e v. 2 Mulher Umedecida - poemas (Scortecci Editora, 2020; 2. ed. rev. e ampl. 2021)