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LEITORES








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"Não me lembro quando me chegou sua Prosa de leitora.  [...]  li com calma, saboreando cada texto de sua miscelânea, como aliás você sugere no subtítulo.

Em princípio, quem escreve ou apenas lê costuma fazer seu diário de leitura. Acontece que alguns são apenas diários, enquanto outros são verdadeiras obras literárias, como é o caso de seu livro. Percorrer os textos nele reunidos equivale a fazer uma viagem pela literatura, em diferentes formas e épocas,  sempre na companhia de uma guia atenta e generosa. Às vezes, a anotação nos lembra algo já conhecido, mas colocado sob novo prisma. Outras, a informação é totalmente nova. Assim, a leitura do livro me despertou o desejo de reler alguns livros e a quase obrigação de visitar obras e autores ainda ignorados. Entendo que essa é uma forma de reconhecer a qualidade do seu trabalho, um verdadeiro diálogo de uma leitora/autora com seus leitores."

02.06.2025

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BENEDITO ANTUNES
Professor de Literatura Brasileira
Universidade Estadual Paulista - campus de Assis



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PROSEANDO, PROSEANDO 

          Sabe aquele papo legal que rola quando a gente está conversando com alguém que compartilha conosco de algum interesse? Pois é : plantas, esportes, músicas, receitas frequentam estes papos.  

          Maria Mortatti é nossa interlocutora num papo legal sobre livros. Abrindo sua obra, "Prosa de leitora" (Ed. Scortecci), é como se - sentados com a autora- ela nos contasse algumas de suas experiências ( vivências, talvez ?)  com livros. Ao longo das pouco mais de duzentas páginas rola uma prosa legal.

          Exemplos ? : 

          Observando a coincidência de nascimento de escritores cuja obra tem grande reconhecimento público - Shakespeare, Cervantes, Garcilaso de la Vega - os três de abril de 1616 ) surge uma questão: capricho dos deuses ? 

          Brincadeira! Claro que não.

          Mortatti nos sugere que a qualidade deles parece decorrer da precoce percepção que tiveram de que ventos novos sopravam na cultura. E são estes ventos que, trazidos para suas páginas seduzem seus até hoje fieis leitores.

          Destrinchando sua fascinação por dicionários, Mortatti nos lembra do conselho de Drummond: "penetra surdamente no reino das palavras".  A propósito de dicionários brasileiros mais recentes- impressos e digitais- a autora traz para a conversa aspectos moderníssimos da vida dos livros: as alterações que sofrem ao longo do tempo: sua fragmentação para atender a diferentes públicos, sua articulação com diferentes linguagens, e por aí vai ... 

          Ou seja, proseando sobre dicionários com Mortati acho que nos convencemos de que as grandes obras são grandes não porque sejam imexivelmente imortais. Ao contrário: sua imortalidade consiste em sua constante reescritura para continuar a conversa com seus leitores. 

          Conversa vai, conversa vem, a história de Pinocchio é um dos assuntos das prosas. O boneco de madeira que há mais de um século circula em dezenas de línguas encena a universal questão do Bem e do Mal, do humano e do fantástico. Sua longa permanência permite que a autora rastreie e discuta a transcrição de história em diferentes linguagens- desde o desenho de Disney às HQs, adaptações, resumos, games.

          Nesta prosa deliciosa, Mortatti inspira seus leitores a se valerem do mundo digital para - conversando sobre as obras que leem-   compartilharem leituras: talvez o grande desafio que espreita todos nós, leitores deste século XXI !

MARISA LAJOLO é escritora, pesquisadora, crítica literária e professora aposentada do IEL/Unicamp.

01.02.2024

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BREVE COMENTÁRIO SOBRE "PROSA DE LEITORA"

Acabei de ler um livro de crônicas, se é que são crônicas os textos que assim estão caracterizados na ficha catalográfica que a Scortecci Editora escolheu para o livro "Prosa de Leitora – Sobre livros, autores e outros acepipes” – vol. 1, de Maria Mortatti. Na apresentação do livro, a autora relata que nele estão reunidos "54 textos selecionados entre os 101" que escreveu "durante 150 noites – de 15 de fevereiro a 15 de julho de 2023" publicados em seus dois blogs. 

Maria Mortatti é poeta, e grande poeta, escritora de contos e crônicas, professora titular na UNESP, campus de Marília. Costuma ser citada como referência em Educação e também como premiada com o Jabuti (2012) pelo livro "Alfabetização no Brasil: uma história de sua história" (Cultura Acadêmica/Editora Unesp). Em 2019, publicou "Breviário Amoroso de Soror Beatriz" (Editora Patuá), sobre o qual escrevi um artigo no portal da Vitrine Literária Editora. Desde aquele ano publicou, pela Scortecci Editora, os seguintes livros: 'Mulher Emudecida", "Mulher Umedecida", "Mulher Enlouquecida", "Amor a quatro mãos", "O primeiro livro de Arthur". E este sobre o qual faço alguns comentários, talvez impertinentes.

O livro traz como epígrafe um poema de Cecília Meireles, "Mensagem a um desconhecido'. Seria este o leitor do livro? Pode ser, mas pode ser o leitor que a autora desconhece, mas que tem esperança de seduzi-lo com as histórias que conta sobre autores e livros que leu, sobre mulheres, algumas das quais quase desconhecidas hoje. Eu, por exemplo, nada sabia de Lenyra Fraccaroli, nem sabia que Júlia Lopes de Almeida ajudou a fundar a Academia Brasileira de Letras, mas não pôde integrá-la por ser mulher. 

Há acontecimentos neste livro de Maria Mortatti que mereceriam maior destaque de minha parte, por um motivo bem simples que chamo de coincidências: o deslumbramento com as ilustrações de Doré impressas na “Divina Comédia”, cuja primeira tradução em português, em voluma enorme, capa dura, guardo até hoje. Também folheei aquele livro, mais interessado nas ilustrações do que propriamente no grande poema, que só iria estudar muito tempo depois. Outra coincidência que me causou surpresa não pelo fato em si mesmo, mas por me remeter ao passado de estudante de Letras que achava estranho o dia 23 de abril de 1616, dia e ano em que faleceram William Shakespeare, Miguel de Cervantes e Garcilaso de la Vega, el Inca. Senti-me vingado com essa referência aos três, não por causa dos dois europeus, mas pelo peruano, que eu, como estudante de literatura hispano-americana, achava injusto não ser lembrado.

Outro acontecimento que me fez voltar no tempo, está no texto "Macunaíma na banheira da Sapucaia". A autora não sabe que a doação da Sapucaia à Faculdade de Ciências e Letras da Unesp-Araraquara aconteceu graças ao empenho do então Diretor, Cláudio Gomide, que convenceu o Reitor (Antonio Manoel dos Santos Silva) a encontrar-se com Heleieth Safiotti e comprometer-se, caso houvesse a doação, em transformar a propriedade em Centro Cultural. A negociação se fez num jantar no restaurante Dinho’s, em São Paulo. 

Há no livro de Maria Mortatti pequenos relatos de leitura prazerosa, leitura da leitora, como, por exemplo, os que falam de Wander Piroli, de Osman Lins, de Camões, de James Joyce, de Flaubert, de Proust, de Manuel Bandeira, de Machado de Assis. Em alguns deles, a autora entra no cenário e se transforma em ser da narração. 

Porém, há sempre um “porém”, o que mais me agradou neste livro foram os textos sobre as escritoras, principalmente as poetisas. Este começo de "Emily Dickinson; a poesia de uma vida", vale o livro inteiro, porque define o espírito que anima seus, de Maria Mortatti, textos: "Não me lembro exatamente em que circunstâncias conheci a poeta norte-americana Emily Dickinson (...) Mas não me esqueço deste estonteante poema com o qual nasceram para mim sua obra e sua vida: "A word is dead/ When it is said,/ Some say./ I say it just/ Begins to live/ That day. (Uma palavra morre/Quando é falada/Alguém dizia. / Eu digo que ela nasce/ Exatamente / Nesse dia.")

ANTONIO MANOEL DOS SANTOS SILVA é poeta, escritor, crítico literário e professor emérito da Unesp – Universidade Estadual Paulista.

18.12.2023

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Piracicaba, 29 de janeiro de 2023Depois de cumprir tarefas acadêmicas e domsticas, sentei-me para ler O primeiro livro de Arthur, de autoria de minha amiga muito querida, Maria! (sempre a chamei de Maria do Rosário, mas parece que nos últimos tempos ela prefere ser chamada de Maria).

Fui lendo com inúmeras interrupções para sorrir, memorar, chorar, desejar, (re)amar, imaginar, (re)ver, admirar, sonhar..., mas preciso dizer que sofrer também. Fiquei pensando que as crianças abandonadas desse meu país - com ou sem as creches, com ou sem as escolas de educação infantil, não têm quem as ensine a amar os livros. E não podem, como Arthur, serem os meninos e meninas que descobrem a livraria; serem meninos e meninas que vão engatinhando apressados para a mesa dos livros e, então arregalar os olhos (p.48).

Gratidão, Maria, por este belíssimo texto, pelas belíssimas fotos e por ter me feito mergulhar no mar de lembranças e desejos e me possibilitar subir nas nuvens da esperança de um mundo de livros, de cores, sons e sabores para nossas crianças!

Abraço afetuoso para você e para Arthur.

 

Anna Maria Padilha

professora universitária, palestrante e escritora

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Adquiri aqui pelo IG as 5 obras literárias de Maria Mortatti, cujo trabalho científico admiro há anos. Comecei a leitura pelos livros de poemas que têm, cada um, projetos bem definidos mas, em sua unidade, gravitam a questão lírico-amorosa e erótica, reiterando uma certa tradição da voz poemática feminina em posição de súplica, desejo e eventualmente submissão à figura masculina. Temas óbvios (como a corte, a entrega, a separação, o sofrimento) são tratados de um modo que não permite ao leitor clareza se há ou não, ali, fundamentalmente repetição em torno das matrizes inspiradoras ou intenção paródica. A chave de leitura - embora os poemas pareçam evocar estados íntimos e temas bastante repetidos na tradição em que os poemas se inserem - requer um leitor iniciado que capture o projeto e as múltiplas referências culturais (das literaturas de distintas línguas, países e tempos históricos e da música erudita principalmente), fundamentais para a produção de sentido; assim, os paratextos assinados pela autora são importantes na decifração de dados elementos e escolhas (que, sem a devida compreensão, podem induzir à rejeição do leitor viciado nos cacoetes contemporâneos). Os poemas dos três livros trazem indicações cronológicas (ora mais precisas, ora mais dispersas) que dão, em seu conjunto, a impressão de uma espécie de "roman a clef" da vida erótico-amorosa da voz lírica, cuja surpreendente coerência pode ser tanto um indício de criação bastante amadurecida quanto de certo enrijecimento em torno de dada posição discursiva. Pessoalmente, para meu gosto, dos três títulos, julgo que *Breviário amoroso de Sóror Beatriz* é o mais bem polido - talvez justamente pelo distanciamento entre o ciclo de produção (anos 1970 e 1990) e publicação.
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MORTATTI, Maria. Breviário amoroso de Sóror Beatriz. São Paulo: Patuá, 2019. (76 p.)
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MORTATTI, Maria. Mulher umedecida. 2. ed. São Paulo: Scortecci, 2021 (134 p.).
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MORTATTI, Maria. Amor a quatro mãos: poemas. São Paulo: Scortecci, 2022 (62 p.).

 

Maria Amélia Dalvi – 20.01.2023


Docente da Universidade Federal do Espírito Santo

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Leitura agradável e instigante. Foi incrível ver a mulher emudecida e umedecida, que venha a enlouquecida!

Mulher universal para a psicologia e única para a vida.

Inspiração para matar os fantasmas e abusadores! Que morram todos e todas!

Inspiração para amar mais! Ela pode amar mais!

A si! Somente a si!

A si ela deve amar e ser amada!

A si ela pode sorrir, não somente triunfante e pela metade, mas totalmente e liberta das amarras, sem se prender ao que já foi. Afinal o que é a vida, se não for o tempo do agora?

Márcia Cristina de Oliveira Mello - professora universitária

24.01.2023

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Boa tarde! Passando para dizer que amei a leitura do livro de Arthur , os poemas e agora me deliciando com os contos! Parabéns! Vc escreve muito bem. Leitura maravilhosa! Bjss

Dica de leitura para o domingo à tarde!
Escritora Maria Mortatti: minha querida e sempre professora de Português do Curso de Magistério CEFAM. Ah! Detalhe: com dedicatória e tudo! Amei a dedicatória e mais ainda a leitura Maravilhosa! Super indico!

Maria Aparecida Lopes Pedro - professora da educação básica

21.01.2023

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Meire Marion - escritora e professora - 18.12.2022


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Maria Teresa Santos Cunha - 28.12.2022


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CELEBRAÇÃO DO AMOR
 
Raquel Naveira

"Amor a quatro mãos", de Maria Mortatti, celebra, num piano imaginário, o amor entre um homem e uma mulher. Um dueto de ritmos e notas líricas.
É quase um canto nupcial que lembra "O Cântico dos Cânticos", de Salomão. A divina alegria e dignidade do amor humano.
Esse clima está presente no poema "Salmo":

Das profundezas da alma
Clamo por ti.

Ouve a minha voz!
Estejam atentos os teus ouvidos
aos meus desejos!
Espero por ti
com todo meu ser,
mais que as sentinelas pela manhã.

Na tua palavra
Ponho a minha esperança.
Ó, homem amado,
No amor leal
– que fecunda a redenção 
pulsa o mistério
da plenitude da vida.

Amar, segundo Mortatti, é um nome, uma ética, uma entrega exclusiva, um enigma, um salto mortal, um ramalhete de versos, um banquete, uma concha de nácar, um pássaro azul, um ipê branco, um susto da alma e mais uma profusão de metáforas incandescentes e ternas.

Que bom sentir o poder e a beleza do amor erótico nessa linguagem imaginativa, tomada das forças da natureza.

MORTATTI, Maria. AMOR A QUATRO MÃOS. São Paulo: Scortecci, 2022.

11.10.2021

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08.12.2022


 




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Comentário sobre o livro Mulher umedecida - poemas, de Maria Mortatti
 (2a. ed. rev. e ampl., Scortecci, 2021)

Por Romildo Sant'Anna



Cara amiga, li seu livro de poemas e gostei muito. Aproveitei os dias nublados por aqui. São delicados, muito delicados, emotivos como recolhimento interior para a expressão lírica. Fui tocado por sopros de inveja do seu personagem referido e amado. Nalguns momentos tive a sensação de que ia cair em choro. Parabéns e agradecido pela sua poesia. Abraço.

Romildo Sant'Anna - crítico de arte e jornalista. Livre-Docente pela Unesp, é membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura (Artec).

05.09.2022


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MULHER EMUDECIDA (contos), de Maria Mortatti. Scortecci Editora, 2021. (https://www.asabeca.com.br/detalhes.php?prod=9259...)
Foto e comentários em #condutaliteraria
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💬"Era então preciso escrever, para buscar traduzir o que havia tanto tempo eu adiara, quando, pela via dolorosa, buscava em outros a paixão que somente em mim poderia encontrar."
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✓MULHER EMUDECIDA // @mortatti.maria
// 96 páginas
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🌷Mulher Emudecida, da autora Maria Mortatti, é o primeiro livro da trilogia Essa Mulher. A obra é composta por 20 contos que dão voz a uma mulher emudecida, que representa as milhares de mulheres oprimidas e silenciadas pelo poder do homem e de uma sociedade que ainda necessita de um aprendizado forte perante o respeito e ao direito de cada pessoa, independente de qualquer situação.
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A obra traz toda jornada dessa mulher, desde a infância até a vida adulta, passando por todas as dificuldades ao qual ela foi limitada e silenciada, não podendo expor sua essência por completo. Seja por preconceito ou alta rigidez diante do comportamento a que se julga ser o "correto".
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A autora despe de forma sensível, porém sem rodeios esse caminho, triste e doloroso, dentro do universo feminino.
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E neste caminho, na solidão e na busca por amparo, acredita-se que o grande libertador seja o amor, o acalento de sua liberdade. Porém, por vezes, não é regra esse final feliz. E aqui se encontra a libertação através da literatura, que mostra a compreensão do amor por si mesma. O que salva e liberta!
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🌷Essa foi uma leitura curtinha, porém tão intensa e repleta de questionamentos e reflexões. A escrita da autora é firme e ao mesmo tempo sensível, conseguindo chegar ao fundo do nosso íntimo e dar aquela agitada nos sentimentos.
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Foi uma experiência maravilhosa para mim!
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Eu realizei esta leitura quase que ao mesmo tempo que a amiga Ana do #cafe_com_leitura . E por suas palavras já sei que o segundo livro é tão sublime quanto este e eu já quero ler também.
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✓Só digo, leiam!
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Contos de formação

Por Luciano Mendes Faria Filho

Ler os pequenos contos do livro Mulher Emudecida, de Maria Mortatti, é adentrar ao universo feminino de um modo particularmente dolorido. Parte de um trilogia comporta por Mulher Umedecida (poesia) e Mulher ensandecida (em elaboração), o livro nos conduz pelos difíceis caminhos de tornar-se mulher.
Há, certamente, nos contos, algo de particular da cultura brasileira, mas desconfio de que algumas das tensões neles trazidas são universais. Uma delas, reconhecida pela própria autora no Posfácio, é aquela que vai da heteronomeação (ela, a menina...) para a automeação (eu) assumida de forma consciente, ainda que não sem dúvidas. Mas não é apenas isso: as relações com a mãe, com o pai (mais rarefeitas mas não menos marcantes), com os homens e, evidentemente, consigo mesma, expressam e constroem um percurso de formação que se confunde com a própria vida.
Formar-se, educar-se, constituir-se...inventar-se mulher é uma construção que se faz a partir de enquadramentos e convocações pré existentes no mundo social e de uma nem sempre suficiente dose de energia e criatividade para arrebentar ou fugir às amarras. Neste sentido, pareceu-me sintomático o autor que a narradora escolheu para a acompanhar no périplo seja Marcel Proust (e não Simone de Beauvoir, por exemplo).

Engana-se, no entanto, quem achar que Mulher Emudecida parte em busca de tempos perdidos. Ainda que o tempo da literatura seja outro, seja o da transfiguração, o livro nos fala do nosso tempo e de muitos outros tempos que insistem, desgraçadamente, em habitar dramaticamente o presente de mulheres (e, sempre, dos homens e de todos os gêneros).

10.04.2022


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MONJAS NA LITERATURA:

 BREVIÁRIO AMOROSO DE SÓROR BEATRIZ

Raquel Naveira


"E falando em SORORIDADE, chegou para complementar minha pesquisa sobre as Monjas da Literatura, o livro Breviário Amoroso de Sóror Beatriz, de Maria Mortatti São Paulo: Patuá).
Um livro forte e delicado, ao mesmo tempo. Uma mulher que renunciou à vida comum para se dedicar à vida monástica.
Anotações da rotina religiosa registradas em diários. Os mistérios de uma fiel esposa de Cristo. Uma alma em êxtase captada pela sensibilidade da mística poeta.
Segue trecho:
'Porque mil anos também se parecem
com umas poucas horas de insônia,
A vigília não deve pesar mais do que o pó.
Com um sopro dissipam-se os medos.
O amor sábio é sereno; a espera, paciente.' "

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Agradeço a Raquel Naveira, pela leitura e por seu post no Facebook, em 14.01.2021, sobre Breviário amoroso de Sóror Beatriz. Uma alegria saber que o livro complementa sua pesquisa "Monjas da literatura" e sororidade!.

14.01.2021


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Poesia escrita por Welessandra, 

em 8.12.2021


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O EROTISMO NA CRIAÇÃO POÉTICA DE MARIA MORTATTI

Edmílson Caminha

 


O erotismo na literatura é um perigo: poetas e prosadores menores que a ele se disponham estarão sempre a um passo do chulo, do grosseiro, do vulgar. Se grandes escritores, farão poemas e contarão histórias para o deleite de quem aprecia o gênero, pela força com que despertam a imaginação e alimentam a fantasia. A esse grupo seleto pertence Maria Mortatti, autora do Breviário amoroso de Sóror Beatriz (São Paulo : Patuá, 2019) e Mulher umedecida (São Paulo : Scortecci, 2020). Poesia de primeira, em que se percebe a essência da criação erótica: insinuar mais do que dizer, sugerir mais do que mostrar, seja na literatura, nas artes plásticas ou no cinema.

Em “O importuno” (1898), óleo sobre tela de Almeida Júnior, um pintor afasta a cortina do ateliê quando, presume-se, alguém bate à porta. A bela modelo, surpreendida, esconde-se, o vestido arrepanhado na altura das coxas, como se em inconsciente defesa do sexo. Não há peças íntimas à mostra, não há nudez, mas sente-se erotismo no ar: podemos supô-los amantes, flagrados talvez por um ciumento marido...

O pecado mora ao lado (1955), título em português do filme The seven year itch, do diretor Billy Wilder, é célebre por uma cena de explosiva octanagem erótica, capaz de mandar pelos ares o prédio de apartamentos em que se passa a história: convidada pelo vizinho de baixo para descer e tomar um drinque, ninguém menos do que Marilyn Monroe lhe pede, na varanda, que espere um pouco: é que costuma, em dias quentes como aquele, deixar a calcinha na geladeira... Nada mais do que isso, o bastante, porém, para sonhá-la pondo a lingerie, chega-se a imaginar o prazer do frescor na intimidade feminina...

Essa, a natureza da expressão poética de Maria Mortatti: delicada, sugestiva, permeada por referências literárias como a que evoca Daniel Defoe em “Marquise”, no Breviário amoroso:


Pouco a pouco, línguas exercitando-se em túmida solidariedade,
cada um de nós, crusoés torturados pela solidão,
apodera-se do outro, sextas-feiras prenhes de submissa gratidão.


Ou à luz de ressonâncias bíblicas que dão solenidade ao profano em “Mistérios gozosos”:

Nem mal, nem bem,
apenas dito
(que é do verbo que se faz a carne),
fruto que sou
de anúncio de anjo
despencado do céu
com a fúria de lança
que se vinga no ventre da terra
depois da briga com deus.


Mulher umedecida mantém a voltagem poética, a exemplo de “Com a seiva nas veias”:


Os olhos negros dele
esparramam sobre mim
seus anseios subterrâneos,
vasculhando os meus na escuridão.


No “Poema da espera”, a invenção do verbo brisar refresca a boca feito bala de hortelã:


Admirarei seu corpo,
suspirarei de paixão.
Quando se aproximar,
pele roçando pele,
lábios brisando lábios,
hesitarei e fingirei fugir,
só para ouvir ameaças de abandono.


“Orgia almiscarada” encanta pela primorosa cadência dos versos, a expressar em ritmo o desejo com que homem e mulher um ao outro se dão para fazer-se um:


Adentrando o portal
da alameda rubra
a alma cai em tentação
derretendo-se com calma
na ponta da língua
nas bordas do corpo
e vibra, atrevida,
na orgia almiscarada
de cores e notas
da despalavreada canção.

Essa, a criação poética de Maria Mortatti, plena de força e de vida, pelo saber e pela competência com que transforma o erotismo em literatura da melhor qualidade.

Brasília/DF - 20.10.2021



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Comentário sobre os livros Breviário amoroso de Sóror Beatriz (Patuá), Mulher emudecida (Scortecci Editora, 2021) e Mulher Umedecida (Scortecci Editora, 2a. ed. 2021)

Por André Congelian

Um personagem de filme ou série, ao ser indagado sobre ter lido um autor contemporâneo, responde: “Só leio gente morta!”.
Respeito a escolha. Tubo bem! Eu leio “gente morta” e tenho meus mortos preferidos, mas também leio gente viva, vivíssima.
Ontem recebi em casa os livros “Mulher emudecida” e “Mulher umedecida”, ambos de Maria Mortatti.
Maria Mortatti foi minha professora de graduação em Pedagogia, no ano de 2002. Também foi minha professora numa disciplina na pós-graduação, em 2006, quando eu estava no primeiro ano do mestrado.
A admiração pela professora e pesquisadora é real e significativa desde a primeira aula lá na graduação, com a disciplina “Didática II”, ocasião em que pediu um dos trabalhos acadêmicos que mais me marcou: relatar a trajetória escolar. Trabalho que guardo com carinho, cujas tramas que envolvem a escrita, devolutiva e reverberações foram narradas em vários outros momentos, como num texto em meu Blog.
Considero essa introdução importante para desenhar minimamente o cenário que me ajudará a refletir sobre as leituras dos livros anunciados acima.
A conexão que criei com a figura/imagem da professora/pesquisadora da “História do ensino da leitura e da escrita no Brasil”, na relação professora-aluno, de respeito, admiração, muito tem a ver com o fato da professora ser formada em Letras, ter atuado como professora de Literatura em escolas públicas e, nas aulas da graduação/pós-graduação exalar literatura pelos poros.
E ainda, à distância, sigo-a pelo Facebook, com algumas oportunidades de interação. Foi pela rede social que soube do lançamento dos livros. No turbilhão desse momento que afligiu a humanidade e continua a nos castigar aqui no Brasil, somente agora consegui adquirir e ler os livros. Chegamos assim às minhas percepções e impressões das leituras.
Um é prosa, outro é poesia. Confesso que prosa é mais atrativa para mim, por gostar muito de histórias. Poesia é uma paixão recente, que tenho buscado me alimentar, muito pelos poemas de Cecília Meireles, e mais recentemente com poemas de Rainer Maria Rilke. Também tenho o livro “Breviário amoroso de sóror Beatriz”, outro livro de poemas de Maria Mortatti.
Os contos no livro “Mulher emudecida” que mais me impressionaram narram episódios da infância/juventude da personagem principal. A narrativa me ajuda a compor com outros elementos e a ratificar uma hipótese de algum tempo: Maria é uma pessoa superdotada, com múltiplas inteligências e sobre-excitabilidades bem marcantes.
Os contextos histórico, social e familiar dessa menina/adolescente não foram propícios e adequados para todo o arcabouço de desejos, habilidades e talentos fora da curva, mas Maria não pode esconder o que lhe é natural: querer conhecer, desbravar, provar, ser intensa em tudo, no desejo pelo tamanco, pela boneca Belinha, de ser bailarina.
As memórias e eventos resgatados nos contos contam como a menina/adolescente/jovem foi sendo proibida de ser quem era. Para mim, sempre nostálgico e revisitando episódios da infância, ler essas memórias de não apenas uma autora contemporânea, viva, vivíssima, mas minha professora e uma professora querida, admirada por sua postura e competência, essas leituras ganham outro significado.
Encerradas as leituras eu humanizo a figura/imagem cristalizada em meu imaginário na relação professora-aluno: uma professora de carne e osso, com casa e rotinas (que não mora na escola e que não se dedica 24 horas do dia aos alunos, ao ensino, essas ideias todas fantásticas que as crianças criam sobre seus professores, mesmo no ensino superior, não essas, mas criamos outros idealismos sobre nossos professores, os maravilhosos e os péssimos).
Recomendo a leitura de ambos os livros e não vejo a hora de ter em mãos o terceiro livro que completa a trilogia de “Essa Mulher” (“Mulher enlouquecida”, uma novela). As páginas, da prosa e dos poemas são regadas de outras referências literárias e de outras Estéticas, em outras linguagens como músicas clássicas e pinturas.
Em suma: a vida real, do dia a dia, transformada em palavras, transportada para a literatura, como para extrair beleza e leveza dessa vida que não é um conto de fadas, muito mais um conto cheio de falhas (como li dias desses nas redes sociais), falhas nossas que nos tornam quem somos, nossos “defeitos” estruturais.
Maria, mulher, professora, pesquisadora, autora, escritora, poeta.
Parabéns
pela concretização desse projeto forte e necessário: “Essa Mulher”!
E a todas as mulheres da minha vida e do mundo: você é o sexo forte, o mundo só é possível pela sua sensibilidade. Avante!

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UM OUTRO BREVIÁRIO: A propósito do "Breviário Amoroso de Sóror Beatriz" (Patuá, 2019)

Por Antonio Manoel dos Santos Silva* 


Breviário Amoroso de Sóror Beatriz é o título do livro de Maria Mortatti, publicado em 2019 pela Editora Patuá. A primeira vez que li o título, me vieram à mente algumas referências: o Breviarium Monasticum dos monges beneditinos, o livro de Roland Barthes, Fragmentos do Discurso Amoroso, os ensaios de Ortega y Gasset presentes em Estudios sobre el Amor, os poemas místicos de Teresa de Ávila, os poemas de Soror Juana Inés de la Cruz, e, como era de se esperar, a figuração feminina mais relevante da literatura ocidental, a idealizada Beatriz de Dante Alighieri, presença obsessiva em La Vita Nuova, e guia beatífica e luminosa no caminho para a Rosa Mística , em La Divina Commedia. Fui ao lançamento do livro, não só para adquiri-lo, mas também para rever a autora, uma docente da UNESP, conhecida por seus estudos sobre educação. Para mim, que a conhecia por seus trabalhos de educadora, foi uma surpresa descobri-la como poeta. 

Mais surpreso fiquei ao ler seu livro e não foi porque está bem escrito, mas porque, conforme diria Mário de Andrade, está milhor escrito; atinge, portanto, um patamar de expressão no qual a linguagem adquire a máxima eficácia possível. Tento mostrar a pertinência desta afirmação, começando por negar ter atingido o alvo com a procura motivada pelo título do livro, o que é próprio àquela pesquisa que busca a presença dos rastros das obras que, como referências imediatas, intuímos instaurarem diálogos possíveis com o texto que vamos ler. Não é qualquer livro de poemas que induz a essa busca. Assim tive oportunidade de visitar textos que há tempos não lia, como os de Barthes, de Ortega y Gasset, de Teresa de Ávila e de Juana Inés, e o Breviarium Monasticum  (Diurnal Monástico), ou mesmo textos que sempre leio, como os dois de Dante acima citados. Assim sendo, o livro de Maria Mortatti (cujo nome comporta um signo que aparece, conforme vou mostrar, como operador poético), começa por garantir sua eficácia quando compele o crítico a essa atividade prazerosa de abrir sua leitura para outros textos, mesmo que alguns desses outros textos neguem seus vestígios. De certo modo o crítico amplia seu universo imaginário que se deixa levar por essas intuições nascidas do livro. Tal amplitude se manifesta em outros aspectos.

Quem é a autora dos poemas contidos no livro? Na capa, está presente o nome poético, Maria Mortatti, que não é todo o nome da autora, Maria do Rosário Longo Mortatti. Mas os poemas são anunciados como sendo de Sóror Beatriz, cuja vida monástica está narrada na orelha da primeira capa: são poemas escritos entre 1976 e 1993, poemas que alguém encontrou entre as anotações da rotina da vida religiosa registradas nas páginas de seus diários. O fingimento poético se introduz nessa síntese narrativa. Esse alguém, que teve acesso aos diários da freira, encontrou os poemas e os ordenou, esse alguém é a Maria Mortatti, de modo que Maria Mortatti edita textos alheios que extraiu de diários. Estamos, pois, diante de um fingimento (ficção) literário de longa tradição na literatura. O leitor do Breviário Amoroso fica se perguntando: que razões leva uma autora a se distanciar, fingidamente, de sua produção, graças ao uso dos velamentos (pesquisadora que mexe em diários, que descobre poemas, que os põe em ordem segundo uma unidade temática, que os edita)? Afinal, quem é a poeta: a editora, a pesquisadora, a monja? Suponho que seja a Maria Mortatti, que se multiplicou, dramaticamente, em personalidades distintas que ora se separam, ora se fundem. Em Seven Types of Ambiguity  (Sete tipos de ambiguidade), Wiliam Empson tratou com pertinência desses desdobramentos literários. Se ele não os elucidou totalmente, eu, que não sou teórico, muito menos. Por isso, aceito o fingimento criado por Maria Mortatti e passo a comentar o Breviário.

Sugeri mais acima que o livro de Maria Mortatti se vale do Diurnal Monástico (Breviarium Monasticum) como guia orientador da ordem dos poemas. O leitor que conhece breviários ou que já ouviu falar deles, fica movido pela expectativa categórica de encontrar no livro da poeta aqueles elementos próprios do culto religioso. Essa expectativa categórica se satisfaz quanto à ordem e à denominação das partes que compõem o conjunto. No livro inventado pela poeta, encontramos as “Horas maiores” (Matinas, Laudes e Vésperas) e as “Horas menores” (Prima, Tércia, Sexta, Noa e Completas), na seguinte ordem: I – Matinas; II -Laudes; III – Prima; IV - Terça; V - Sexta; VI – Noa; VII – Vésperas: VII - Completas. Mas, a Maria Mortatti oferece como bônus uma parte final que constitui uma intrusão de autora, a parte intitulada “Rosário” (p.67-75 ou 76), o que me pareceu uma imposição da vontade pessoal, que resolveu jogar um cisco no olho dos que, desde há algum tempo, querem afastar o autor de sua criação. Além dessa intromissão autoral, que cria uma tensão entre a estrutura do Breviário religioso e a composição do livro, já que o rosário não costuma constar em parte alguma do Diurnal Monástico, encontramos tensão poética mais relevante. É a que se estabelece com os conteúdos discursivos, que rompem com a expectativa categórica, pois esses conteúdos se voltam para o amor profano e não para o amor místico, para este amor que os hispânicos costumam qualificar de “amor a lo divino”. 

Se eu interpreto corretamente, a poeta instaura duas instâncias de significado, a que anuncia nos títulos e subtítulos e a que enuncia nas diferentes partes e nos poemas que as constituem. Este jogo de reverberações inversas começa com a repetição do título do livro no texto de abertura (páginas 13 a 15), que constitui uma antecipação resumida do que leremos a seguir. Mas é uma antecipação falsa, pois nenhum dos oito subtítulos repercute nas oito partes do Breviário, ainda que já contenham os sinais do caráter profano que animará o discurso amoroso, o que fica abertamente enunciado em todos os versos dos oito subtítulos e às vezes sem restrição nenhuma determinada pelo pudor, como acontece no quinto verso de “II-Laudes”; e o sabor de tua língua em meus grandes lábios (p. 13). 

O que o leitor espera encontrar em orações das Matinas (as orações que se rezam durantes as horas da madrugada em vigília)? Esperam-se salmos, antífonas, cânticos, etc., de elevação espiritual, com que se prepara o espírito para as vicissitudes ou os trabalhos do dia. Mas a Matinas de Maria Mortatti intitula-se "Poética" (p. 19), isto é, um poema sobre sua concepção de poesia, uma poética tanto explicativa quanto, simultaneamente, programática, que sintetiza, por meio de metáforas e símbolos, os motivos dominantes que reaparecerão nas demais partes (Laudes, Prima, etc.). Tais motivos têm como eixo o amor, ou melhor, a experiência amorosa. Não encontraremos, portanto, teorizações ou tentativas de teorizações sobre o Amor e sobre suas formas de manifestação, mas, sim, sobre a experiência vivida de amar, desde o enamoramento imprevisto até o sentimento da falta e da necessidade de satisfação sexual, passando pelos “domésticos venenos” (v. "Prisão Domiciliar") e pela recusa das leis e dos estigmas impostos às mulheres ou a elas aplicados (v. "Desabafo") e até afrontando, com a ambiguidade expressiva da metamorfose litúrgica, a sacralidade dos sacramentos (v. "Antropofagia"). A escolha poética de Maria Mortatti é a do amor como experiência humana. Como essa experiência, que é a de uma relação finita entre seres finitos, se faz segundo uma variedade grande de modalidades, o livro contém o reflexo dessa diversidade na constituição formal dos poemas, o que torna coerente o uso de medidas velhas como a glosa e o canto coral, ao lado de construções modernas que se valem da imitação de formas forâneas e do uso do chamado verso livre em que o ritmo não se reduz às sequência dos acentos de intensidade. Deixo para um segundo artigo, minha análise sobre este aspecto essencial da poesia, ou seja, a forma como instância do conteúdo. 


Antonio Manoel dos Santos Silva

(São Paulo, 30/12/2019)

Fonte: https://www.vitrineliteraria.com.br/um-outro-brevi%C3%A1rio


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Comentário sobre o RECITAL POÉTICO – Scortecci Editora - 9.8.2021
Por Ana Beatriz Matheus Gonçalves - Curso de Pedagogia - Unesp-Marília.
No dia de realização do evento estava pensativa sobre o fato de que poesia não é, e nunca foi, meu estilo literário preferido. Um dos motivos responsáveis por isso é que sempre imaginei poesia como sendo algo muito distante de mim, feita para “pessoas inteligentes” e adultos. Mas no decorrer do evento fui percebendo o quanto perdi ao acreditar nisso.
Um dos momentos mais marcantes foi ter a oportunidade de ver a minha professora Maria Mortatti declamar uma poesia maravilhosamente, passei a enxergá-la de uma maneira diferente, não só como a professora dentro de sala de aula, mas como uma artista. Foi graças ao recital que decidi pesquisar mais sobre poesia, a fim de encontrar algum autor que me incentivasse a ler mais desse gênero. Além de que o recital também colaborou para a minha formação como professora, aumentando meu repertório para que no momento que estiver dentro da sala de aula possa ofertar, aos meus alunos, uma variedade maior de manifestações artísticas.
Muito obrigada a todos os organizadores do evento, a todos os artistas escritores que me fizeram prestar mais atenção na poesia e à minha professora Maria Mortatti por ter compartilhado o convite para o evento.

Marília, 18 de agosto de 2021
Ana Beatriz Matheus Gonçalves
Curso de Pedagogia
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
UNESP/FFC - Marília


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CENA DE AULA
A leitora e a poeta se encontraram, no comentário espontâneo de Bianca Aparecida dos Santos Costa - Curso de Pedagogia - Unesp-Marília, sobre o livro MULHER UMEDECIDA, de Maria Mortatti (Scortecci Editora, 2a ed. rev. e ampl. 2021)
Bianca também me presenteou com comentário escrito:
"Professora, a senhora não imagina o quanto é difícil expressar em palavras o misto de sentimentos que Mulher Umedecida me trouxe.
Este livro transformou parte de mim.
A intensidade de cada palavra me devolveu o entusiasmo e a euforia de uma apreciação veraz.
Que privilégio, Mulher Umedecida.
Que belíssima obra.
Muito obrigada!"
Obrigada, Bianca!
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Aula da disciplina "Conteúdo, metodologia e prática de ensino: língua portuguesa e literatura infantil" - 17.8.2021


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COMENTÁRIO SOBRE MULHER UMEDECIDA (Scortecci, 1a. ed., 2020; 2a. ed. revista e ampliada, 2021)

Por Ana Claudia - 

POESIAS...


Olá, boa tarde! Tudo certinho por aí?

☕ Vocês gostam de poesia e todo o envolto ao universo feminino?

Eu sou apaixonada!

Dia desses estava conversando com a galera lá do #clubedolivrodocafe , no Telegram, até que minha amiga, a Fê, do @condutaliteraria comentou que estaria lendo o livro 𝐌𝐮𝐥𝐡𝐞𝐫 𝐔𝐦𝐞𝐝𝐞𝐜𝐢𝐝𝐚, da escritora @mortatti.maria , que foi publicado por uma editora que guardo com carinho no coração: eu falo da @scorteccieditora .😊

No instante lembrei-me que tinha a obra em casa por ter recebido da editora!
Ora, para uma pessoa que está saindo de uma estafa, um cansaço literário (uma talvez ressaca), vi que poderia ser um meio de aos poucos estar me reinserindo. E acertei! Sou grata ao bate-papo com a @condutaliteraria , à Scortecci e à Maria Mortatti, que me integraram em um universo de palavras e sensações únicas à mulher, sua intimidade, um eu muito mais que poético, através do amor, das relações -- do vínculo com o outro.

A escrita da autora nos toca com a mais pura sensibilidade feminina a nos convidar ao encontro da alma, dos sentimentos, com palavras que se inserem a cada um de nós da maneira mais sublime.

A mim foi uma experiência deliciosa desfrutar dos poemas compostos na obra!

Beijos Literários! ❤️☕❤️




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COMENTÁRIOS SOBRE O LIVRO RECEITA DE AMBROSIA PEÇA DIDÁTICA,
de Maria do Rosário Longo Mortatti (Editora Unesp, 2020) e a aula pública de 03.02.2021.
E-book gratuito: http://editoraunesp.com.br/catalogo/9786557140086,receita-de-ambrosia
Aula pública: https://www.youtube.com/watch?v=EAroXe-ykNg&ab_channel=ComunidadeEducatelie 

Por estudantes da disciplina “Alfabetização”, ministrada pela professora Vanessa Cristina Girotto, do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alfenas, em 22.7.2021



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COMENTÁRIO SOBRE MULHER EMUDECIDA (Scortecci Editora, 2021)

Por Benedita de Almeida

Há tempo terminei a leitura de Mulher emudecida, mas acabei não lhe escrevendo para dizer o quanto gostei dessa leitura. Obrigada por nos trazer tão profundas reflexões sobre a condição da mulher, estabelecidas por meio de singelas situações da vida, às vezes prosaicas… E vc as desentranha e retira delas uma sabedoria, uma verdade que sua sensibilidade consegue atingir e nos levar também à reflexão. Abraços!

21.07.2021


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COMENTÁRIOS SOBRE: RECEITA DE AMBROSIA – PEÇA DIDÁTICA, 
de Maria do Rosário Longo Mortatti. Editora Unesp, 2020. 
E-book gratuito: http://editoraunesp.com.br/catalogo/9786557140086,receita-de-ambrosia

Por estudantes da disciplina “Conteúdo, metodologia e prática de ensino: língua portuguesa e literatura infantil” – 3º. Ano - Curso de Pedagogia – FFC-Unesp-Marilia 


Camila Nascimento de Souza
Ler o livro Receita de ambrosia, mais do que uma simples leitura, foi uma experiência nostálgica. Em vários momentos lembrei-me da minha trajetória até aqui e, principalmente, da minha infância. Quando criança, eu amava escrever histórias e contos, tinha realmente gosto por isso e dedicava horas dos meus dias pensando em personagens e situações inusitadas que divertiriam meus colegas de classe quando lesse a história para a sala. Teve até uma vez que uma de minhas histórias se transformou em uma apresentação teatral e me recordo que foi muito divertido, pois todos da sala se envolveram e se animaram com a ideia. No entanto, quando cheguei ao nono ano e a professora disse que a partir daquele momento teríamos que escrever textos argumentativo-dissertativos tendo como base um modelo pronto, assim como dito no livro sobre as redações escolares, lembro que todo meu gosto pela escrita acabou, pois não havia mais estímulos para que escrevesse textos que levassem em conta minha criatividade e imaginação. Até hoje sinto falta daquele amor que eu tinha pela escrita e lendo o livro percebo o quanto essa “quebra” pode ter afetado a construção da minha trajetória como futura professora e até como ser humano. (02.07.2021)

Melissa Gonçalves
O livro em especial nessa época que estamos vivendo longe das salas de aula consegue trazer de alguma forma a sensação de como seria a aula presencialmente, é muito especial fazer essa leitura, porque traz a gente para uma realidade que ao mesmo tempo em que é tão próxima está tão distante. Consegui me sentir parte de história provavelmente por sua forma de escrita como peça de teatro, é como se nós leitores fossemos um personagem, o aluno tímido e de poucas palavras que não participa ativamente, mas está lá como um ouvinte atento e curioso para saber o que vem adiante.
Outro ponto que me tocou bastante foi em relação às dúvidas, sempre dizendo o quão importante é tira-las durante a aula mesmo que pareça algo bobo ou óbvio. Os medos que existem ao fazer esses questionamentos com certeza foram amenizados após a leitura do livro. 
Ele também mostra a como não existe receita e nem formula mágica pra dar aula e ensinar, tudo depende, do professor, da sala de aula, da turma, do período, destacando novamente esse momento atípico que estamos vivendo, se um professor segue uma receita pronta sobre como e dar aula quando se deparasse com essa nova forma de ensino não saberia como lidar com nada, não considerando as dificuldades tecnológicas que realmente existem, mas sim a sua metodologia, um professor consegue se adaptar para dar aula em uma sala de aula convencional, em um bosque em uma aula passeio por exemplo ou para um computador, porque não segue uma receita pronta do que deve ou não fazer, ele estuda, aprende e se adapta. (02.07.2021)

Natália Diniz de Lima Targini
A obra nos faz refletir o quanto a leitura nos traz vivência, história, memória e transmissão. Além disso, a leitura dialoga o eu e o outro. (02.07.2021)

Ronaldo Tiago Marques de Jesus
O livro Receita de Ambrosia – peça didática criou expectativas de como seriam nossas aulas, caso fossem presenciais. O que me chamou muito atenção no livro foi a questão de aprendermos a escrever textos, de sermos autores e não meros reprodutores do que já foi dito por outras pessoas. Essa questão me faz refletir sobre o que estou escrevendo agora. Estou escrevendo me baseando em outros autores ou essas são minhas palavras? Essa reflexão me pertence ou estou reproduzindo a reflexão de outra pessoa? Eu acredito que essas sejam minhas palavras, mas como saberei se é realmente isso ou se estou reproduzindo reflexões que já li e apenas concordei refletindo da mesma maneira. Será que estou apenas "melhorando ou modificando a roda", ou estou inventando o carro voador (que não tem rodas)?
Minhas perguntas serão as mesmas dos alunos que tiveram suas falas reproduzidas no livro? Se forem as mesmas questões, as perguntas são minhas ou de outras pessoas? Meus sentimentos/palavras/questões são diferentes dos outros alunos e apenas não sei me expressar? Como me fazer entender? (02.07.2021)

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Por estudantes da disciplina "Alfabetização", ministrada pela professora Vanessa Giroto, no curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alfenas /MG -

Maria Fernanda de Souza
É um riquíssimo material literário que nos apresenta um verdadeiro um roteiro de atuação dos professores, com especificidades de sua metodologia que me estimulou de uma forma muito positiva, pois foram apresentados conflitos reais que, realmente presenciamos em algum momento da nossa vida escolar, tanto como alunos, quanto como professores. Foi um texto realmente muito enriquecedor. (fevereiro 2021)

Giovana Oliveira Petrorenzo 
"[...] gostaria de expressar minha nostalgia lendo o texto, o formato, os diálogos e tudo mais me lembraram muito do tempo que ainda podíamos ir para a faculdade, quem diria que faria tanta falta. [...] e elogiar o formato do texto, pois ele é tão familiar que a leitura se torna fácil, ainda mais nesses tempos em que a falta da sala de aula é tão grande." (fevereiro 2021)



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COMENTÁRIO SOBRE MULHER EMUDECIDA (Scortecci Editora, 2021)
Por Ralph Peter* 


*Livros em Revista. Jornal Empresas & Negócios. São Paulo, sábado a segunda-feira, 08 a 10 de maio de 2021

Disponível em: https://jornalempresasenegocios.com.br/wp-content/uploads/2021/05/pagina_05_ed_4358.pdf


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COMENTÁRIO SOBRE MULHER UMEDECIDA (Scortecci, 1a. ed., 2020; 2a. ed. revista e ampliada, 2021)
Por Ralph Peter* 

"Nesta segunda, revisada e ampliada edição, temos o prazer de reler, parte da obra dessa ilustre professora que tanto propala e cultua nosso sofrido idioma pátrio. Suas crônicas e poesias continuam datadas e contemplam todos perfis e paladares de leitores por mais exigentes que sejam. Há que ser rigoroso, o que ela não teme, e com “cabeça” aberta, pois, suas entrelinhas muitas vezes escondem, digamos, segredinhos. Desta feita escolhi “Monólogo da menina umedecida”, uma deliciosa reminiscência. Sua pena é profunda sem perder jovialidade. Merecedora de reverências!"


*Livros em Revista. Jornal Empresas & Negócios. São Paulo, sábado a segunda-feira, 20 a 22 de fevereiro de 2021 

Disponível em: https://jornalempresasenegocios.com.br/wp-content/uploads/2021/02/pagina_09_ed_4306.pdf


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COMENTÁRIO SOBRE MULHER UMEDECIDA (Scortecci, 1a. ed., 2020; 2a. ed. revista e ampliada, 2021)


Livre... Leve...  Solta... 


Por Zina Bellodi*

 

Penso que, se quisesse, Maria teria escrito um livro com poemas de estrofes e versos regulares. Respeitadas as devidas proporções, mais um caso de poeta que revoluciona pelo modo como apresenta seus temas, usando versos de talhe clássico ou, pelo menos, tradicional; assim fez Mário de Sá-Carneiro que, junto com Fernando Pessoa, ambos se tornaram um marco do Modernismo na Literatura Portuguesa.


No caso específico de Mário de Sá-Carneiro, os versos e as estrofes são regulares, mas o que ele diz e a forma como ele diz sugerem alterações no tradicional. Mário e Pessoa participam da modificação que se operou na poesia do Modernismo português. 


Tomando agora o conjunto de poemas que suscitou este comentário, diria que somente uma mulher livre poderia dar ao seu livro o título Mulher Umedecida, o qual remete o leitor, de imediato, ao grande tema de seus poemas, a partir do título e também da dedicatória – o leitor mergulha no clima que domina praticamente toda a sequência de 55 poemas. A sua ousadia é de tal forma impactante que o tema chega a se tornar leve e a autora, solta, sem amarras. Aparentemente, diria eu. Sua leveza e sua maneira livre de se posicionar diante dos fatos podem me sugerir (será que estou certa?) que esses versos escondem uma mulher (umedecida?)  que se encontra no aguardo de um grande amor distante, talvez impossível.


[...] 


Os sonhos deste eu-poético que permeiam toda a sequência dos poemas referem-se à relação amorosa, embora eu não tenha feito levantamento algum que pudesse me permitir uma afirmação com o mínimo de segurança.


Diria, ainda, que esse eu-poético, travestido de mulher apaixonada, vê no amado a razão da sua própria existência.


10.02.2021

*Professora Titular aposentada do Departamento de Literatura da Faculdade de Ciências e Letras - Universidade Estadual Paulista - campus de Araraquara. 
Disponível em: https://www.amigosdolivro.com.br/2021/02/livre-leve-solta-mulher-umedecida-maria.html
 
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COMENTÁRIO SOBRE MULHER UMEDECIDA (Scortecci, 2020)
Por Hamilton Terni Costa*

Com muita sensibilidade a autora vai registrando ao longo das poesias do livro o amor do ponto de vista feminino. Em suas circunstâncias, expectativas, aflições, prazeres, decepções, reencontros e sempre novas possibilidades. Uma ode ao amor de uma mulher por um homem. Poesias aparentemente simples, mas com muita profundidade. Manejadas cuidadosamente pela cultura, sapiência e sensibilidade da Maria Mortatti.

(18.01.2021)

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Consultor, professor e Podcaster - Ondas impressas
Disponível em: 
https://www.amazon.com.br/Mulher-Umedecida-Maria-Mortatti/dp/6555290463#customerReviews


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COMENTÁRIO SOBRE MULHER UMEDECIDA (Scortecci, 2020)
Por Sérgio Fabiano Annibal* 

[...] Foi-me um grande prazer ler os poemas e aproximar-me de um texto sensível do começo ao fim, deparei-me com uma escrita cuidadosa, que ao mesmo tempo que cuida das palavras dá acesso a um mergulho profundo nas dores e delícias da vida, tendo como fio condutor a memória. Parabéns. 
Fui um leitor privilegiado. 

(15.01.2021)

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*Professor do Departamento de Estudos Linguísticos, Literários e da Educação - UNESP - Campus de Assis


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MULHER UMEDECIDA - Maria Mortatti (Scortecci, 2020)

Por Ralph Peter* 

O que para muitos parecerá um título lascivo, trago boas notícias. A professora que há muito, para nossa boa fortuna, dedica-se com primor e rigor absoluto a refinadamente venerar e propalar o idioma pátrio, nessa obra, uma verdadeira ode ao amor, enfatiza a liberdade de querência, do enlevo amoroso e naturalmente sua conclusão sexual. Vai às raias de concatenar seus belíssimos poemas a magistrais e imortais obras clássicas. Um show de estilo com aprofundada cultura. Obras marcadas com data de criação. O leitor terá a grata impressão de que ela, nasceu escrevendo, tal sua fluidez pujante e doce que levará sabores aos mais requintados paladares intelectuais. Muito bom!!

*Livros em Revista. Jornal Empresas & Negócios. São Paulo. Sábado a segunda-feira, 7 a 9 de novembro de 2020.

Disponível em: https://jornalempresasenegocios.com.br/colunistas/ralph-peter/livros-em-revista-07-a-09-11-2020/

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RESENHA #50 - MULHER UMEDECIDA (LITERATURA NACIONAL) - MARIA MORTATTI

Por Rudynalva Soares 

[...]

Nós mulheres trazemos de forma inerente, a sensibilidade e a percepção de situações que aparentemente podem ser superficiais e de forma sutil, conseguimos enquadrá-las dentro de nossas vivências e experiências adquiridas no decorrer da jornada existencial.

A autora conseguiu imprimir em seus versos a sutileza, a força e o desejo de uma mulher enamorada. Mostra o quanto pode ser profundo, doce e satisfatório o relacionamento, mas também, como alguns comentários e atitudes do ‘outro’, podem marcar, magoar, desestabilizar e ainda assim, proporcionar felicidade.

Contraditório? Pode até ser... E não somos todos seres dúbios, contraditórios e questionadores? E apesar de cada fala, atitude, toque, carinho, afeto, não buscamos a felicidade? Pois é o que a escritora conseguiu passar com seus poemas íntimos e sensíveis em suas colocações.

Dá para perceber uma certa cronologia nos fatos e sentimentos narrados, um vai e vem no tempo, mostrando a evolução da relação e da sensação naquele determinado momento, deixando a marca dos sentimentos, incrustadas nas palavras que serão imortais.

Não há como não me identificar com as experiências transcritas, acredito que em algum momento, já sentimos a ambiguidade descrita e a busca pessoal e poética demonstrada pela autora. Suas poesias trazem acalanto ao coração, questionamentos filosóficos à mente e transcende a sensibilidade da alma.

Recomendo para todos, principalmente para as mulheres que entendem o umedecimento feminino.

(19.10.2020)

Disponível em: http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com/2020/10/resenha-50-mulher-umedecida-literatura.html


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O CORPO QUE GRITA SEU CIO

por Renata Soares Junqueira

O livro de poemas Mulher umedecida (Scortecci, 2020), de Maria Mortatti, insere-se numa tradição literária representativa dos primórdios da luta feminista que se vem fortalecendo sensivelmente, pelo menos desde o início do século passado.

Refiro-me à tradição amorosa da escrita de (suposta) autoria feminina, que na cultura cristã remonta ao tempo medieval em que se fazia a impostação da voz feminina nas ‘cantigas de amigo’ da lírica galego-portuguesa, e que em português moderno transita da epistolografia extática de Sóror Mariana Alcoforado aos sonetos sensuais de Florbela Espanca. É a mulher libertando-se de imposta clausura, despindo o seu burel de freira para dar voz ao corpo, que grita o seu cio.

Por essas veredas também andou Maria Mortatti, que anteriormente já havia lançado o Breviário amoroso de Sóror Beatriz (Patuá, 2019) e agora escancara o desejo da mulher umedecida neste novo livro, no qual se leem sonoros “poemas-partitura” que revelam uma especial devoção da poeta à música, com destaque para a presença inspiradora de Gustav Mahler.

A exploração lúdica da sonoridade mostra-se logo, aliás, no jogo anagramático dos títulos escolhidos para compor o que será uma trilogia literária: ao volume Mulher umedecida devem seguir-se o dos contos de Mulher emudecida e o da novela Mulher enlouquecida. Mulheres que, juntamente com Sóror Beatriz, vão compondo o universo ficcional feminino de Maria Mortatti.

São todas bem-vindas!

 (04.08.2020)

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* Renata Soares Junqueira é professora do Departamento de Linguística, Literatura e Letras Clássicas, da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP - Universidade Estadual Paulista - campus de Araraquara.
 

Disponível em: https://www.amigosdolivro.com.br/2020/08/o-corpo-que-grita-o-seu-cio-renata.html


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COM A PALAVRA, LEITORES DE MULHER UMEDECIDA (Scortecci, 2020)

“Parabéns pela obra e pela escolha feliz do título, que brinca com nossas fantasias de modo bastante agradável!” (F.)

“Estou lendo os poemas e me deliciando com a força que cada um deles carrega. Fiquei pensando que praticamente todos foram escritos em um intervalo de menos de seis meses: surpreendente!!!!” (M.)

“Mulher umedecida de um amor sem começo e sem fim! Parabéns pelo livro e pela entrevista (J.G.)
“Irei gostar do livro. O poema ["Retrato do homem amado"] que nos presenteou na entrevista me fez rememorar os poemas de Florbela Espanca.” (F.M.)


"Sensual e profundamente místico, como o amor... lembra os Cantares/cântico dos cânticos, o elogio da beleza do amado (Salomão): "o meu bem-amado é para mim um cacho de uvas nas vinhas de Engadi" - "O homem que amo é lindo" (M. L. C)


"(...) poesia tem a sutileza do belo, romântico; muito me inspira esse gênero"(J.)

“Acabei de receber meu livro, 'Mulher umedecida'. Comecei a ler e ao chegar nessa poesia ['Falsos cognatos'], não pude continuar.... li mais uma vez, li outras.... que tocante, traduziu em rosas-poesia um sentimento-espinho ou um espinho-sentimento. Estou encantada. Vou continuar a leitura” (F.P. 30.07.2020)


"Só precisei de uma manhã para ler a 'Mulher umedecida'. Esse sentimento tão conturbado que é o amor: que nos eleva e arruína... Mas você, poeta, gentilmente nos faz compreendê-lo quando por fim traz o olhar da menina. Fiquei emocionada. Parabéns pelo livro!" (C.R.S. 02.08.2020)


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LIVRO DE POEMAS BREVIÁRIO AMOROSO DE SÓROR BEATRIZ UNE MÚSICA E ORAÇÃO NUMA BELA ELEGIA DO AMOR NA CARNALIDADE DA PALAVRA 

por Fernando Andrade jornalista e crítico literário


Sempre achei que o sagrado e o profano estão irmanados por uma intertextualidade terrena sob a vestes do cotidiano mais prosaico. E que o homem pragmático e negociante às custas de um bom negócio a sua alma devedora de bons vinténs, negocia o saldo ou pendor de sua quantia capital de conivência-conveniência. Que esta coisa de “percalço humano” nos levou ao pecado do gosto da fruta. A semente da maçã se deitou com a serpente, houve aí juros de mora para que o homem e a mulher não se tocassem mais de acordo com este mesmo sagrado-profano, que nada mais é que as submissões do corpo ao desejo.

Quantos milênios de recolhimento do corpo? Aos tapetes voadores da libido esvoaçante pelos bosques do interdito. Quando vemos um livro de poemas que faz da liturgia do amor recolhido – uma minúscula casca de noz, algo bem envolto em carinho, cuidado e proteção.

Maria Mortatti, escritora e poeta, em seu novo livro de poemas, Breviário amoroso de Sóror Beatriz, editora Patuá [2019], narrou sobre uma passagem nem tão bíblica, sobre as fontes do amor, que surge de onde menos se espera. Muitos filósofos já estudaram esta peça de câmara que é o enamoramento; um tal feitiço que como névoa encobre a montanha mais íngreme: a cabeça.

A poeta tece a cotidianidade de uma liturgia de uma religiosa que parece estar num convento. Como uma sabatina da semana com seus nomes como: matinas laudes, esta sacerdotisa tem um cotidiano religioso que prove sua vida em litânia e cântico. Mas esta tapeçaria da semana pode muito bem ser religiosamente provida para cozer o sagrado do amor em carne & espírito do desejo mais carnal por um homem que tenha botado os olhos somente por uma vez. O amor nasce de um acaso? de uma mirada? De um brisa, suave, retorcendo uma flor em pétalas? Maria divide em seções ritualísticas de devoção ao trabalho religioso os seus poemas e para cada seção faz de um poeta-poema-epígrafe; síntese daquele estudo arquetípico: amor.

A sacristia religiosa vira carestia por acolhimento do amado? A f(r)ase platônica do desejo ligado ao olhar pelo corpo & interior do preterido enumera questões profundas e metafísicas.

Os poemas são prismados com requinte de erotismo, plasmados com a sofisticação da palavra talhada em madeira de lei-ritual. A busca do amado através da poética, talvez não passe de um lira do autoconhecimento. A poética da imagem refletida, já vimos que a poesia é oracular e miraculosa em vermos os outros com olhos de nós mesmos. A comunhão litúrgica da missa nada mais seria que um pergaminho imenso de transcrição do poema-vida, daquilo que metaforiza carne em espírito na morada proteção do ego perdido na urbe poluída.

Literatura e fechadura - revista digital. 2019. 
https://www.literaturaefechadura.com.br/2019/06/16/livro-de-poemas-breviario-amoroso-de-soror-beatriz-une-musica-e-oracao-numa-bela-elegia-do-amor-na-carnalidade-da-palavra/