Não espero ouro, incenso nem mirra. Não sou rainha, sacerdotisa nem profetiza. Não quero ser adorada. Peço apenas que me livrem dos pobres de espírito, os ignorantes de sua idiotia que acreditam na bem-aventurança que Mateus lhes prometeu. Se deles é o reino dos céus, prefiro o inferno. De Dante ou de Rimbaud. Onde não se entra senão despido de covardia e arrogância. Onde se caminha em meio a lágrimas, soluços e gritos lancinantes. Estou farta do arremedo disfarçado de erudição, da estupidez fantasiada de sabedoria, da leviandade travestida de leveza. Estou farta dos falsos profetas e falsos poetas. E dos igualmente idiotas que os aplaudem! Ó reis, se forem mesmo magos, reescrevam a injusta bem-aventurança do evangelista equivocado. E, com urgência, livrem-me dos pobres de espírito. Amém.
Maria Mortatti – 06.01.2023