Ontem à noite, depois de acompanhar notícias de mais um dia catástrofes, guerras e tantas outras tragédias, veio-me de novo à mente a indignada constatação: “Nada está tão ruim que não possa piorar”. Talvez como mecanismo de resistência e sobrevivência, lembrei-me de dois poemas de Manuel Bandeira: “Tragédia brasileira” e “Vou-me embora pra Pasárgada”. Para acalantar o sono, preferi fixar a atenção no segundo. Na última verificação diária de redes sociais, encontrei o post de um amigo, reproduzindo trecho de fala de Antonio Candido, em vídeo de 1993, sobre a importância da utopia. Compartilhei-o imediatamente. Como há também coisas boas que puxam outras coisas boas, lembrei-me da frase de Paulo Freire sobre a necessidade de manter viva a esperança. Repousei o celular do lado esquerdo da cama. Já era hora de dormir para – quem sabe? – sonhar com dias melhores...
Fui despertada pela notificação de WhatsApp de um amigo compartilhando matéria sobre uma... cama. Mais uma curiosa história relacionada com minha cidade natal: a da cama criada, em 1915, por Celso Martinez Carrera, marceneiro italiano radicado em Araraquara/SP, e a disputa que com ele travou outro imigrante italiano da cidade, Luigi Liscio, que, em 1919, patenteou a invenção com o nome “cama Patente” e transferiu a fábrica para o bairro do Bom Retiro na cidade de São Paulo.
Essa história me fez recordar das camas em que dormia na infância e juventude araraquarenses. Nenhuma era Patente. Como não é a cama em que amanheço, acompanhada de utopias e esperanças de dias melhores. Porque em minha Pasárgada, valem os versos do poeta: “Lá sou amiga do rei/Lá tenho [o homem] que eu quero/Na cama que escolherei.”.
Maria Mortatti – 20.04.2020/13.10.2023