De Vó Pimpinela, vêm-me à lembrança as canções italianas cujas letras me ensinou: Tarantella, Dio come ti amo, Io che amo solo te; sua alegria de viver; seu prazer em comer bem, seu costume de tomar água tônica de quinino e dormir por 30 minutos com os pés cobertos depois dos almoços de família, para facilitar a digestão; seu hábito de usar o tônico capilar Juventude de Alexandre, para manter a cor natural de seus longos e lisos fios de cabelo que eu tanto admirava. Assim foi até ela morrer em 1978, depois da cirurgia do fêmur fraturado numa queda em casa.
De Vó Ninela, as lembranças são do presente de minha formatura no curso de Letras: o livro História concisa da literatura brasileira, de Alfredo Bosi, com a dedicatória: “Per ricordo e per non dimenticare”: de seu hábito diário de – sentada na cadeira de balanço – ler o jornal Folha de S. Paulo e, ao longo do dia, contar casos dos Abramo, sua família paterna, enquanto tecia colchas de crochê, uma para cada um dos 12 netos, como presente de casamento. Assim foi até morrer em 1994, dois meses antes de completar 100 anos de idade.
Pouco sei dessas mulheres, de suas tristezas e alegrias, se amaram e foram amadas. Hoje me restam as lembranças de canções e colcha. Seus melhores legados. “Per non dimenticare” di “quel che resta della mia gioventù.”
E eu, que lembranças tecerei para Arthur? Que legado deixarei para meu neto?
Maria Mortatti – 16 de julho de 2023
Dia dos Avós e 108 anos do nascimento de Angela Maria Abramo Longo
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*Crônica publicada em O primeiro livro de Arthur, Maria Mortatti (Scortecci Editora, 2022)