UM POST SOBRE “PÓS“ / MARIA MORTATTI

Para noticiar a merecida eleição de uma pesquisadora e professora universitária para a Academia das Ciências de Lisboa, o/a jornalista a apresentou como “professora pós-doutora”. A intenção, claro, era ressaltar a alta qualificação da eleita, mas o efeito não foi exatamente esse, ao menos para os que conhecem a estrutura da carreira de docente universitário no Brasil. Estranhei: só “pós-doutora”?

“Pós” (do Latim “post”) é um prefixo que significa “após, depois, posterior, que pode ocorrer em um momento posterior, no espaço e no tempo”. Pós-graduação é etapa de formação posterior à graduação e pode ser do tipo “lato sensu” ("sentido amplo"), como especialização ou MBA, com duração mínima de 360 horas e certificado de conclusão como “especialista"; ou “stricto sensu” ("sentido estrito"): mestrado (acadêmico e profissional), com duração de dois anos, resultando em dissertação de mestrado e diploma de título de Mestre, e doutorado, de quatro anos, resultando em tese de doutorado e diploma de título de Doutor (PhD). Pós-doutorado “ou pós-doutoramento, coloquialmente chamado 'pós-doc', é um estágio [que pode ser de apenas um mês] de estudo e pesquisa feito por um portador do título de doutor numa universidade ou instituição de pesquisa, visando ao aprimoramento de suas habilidades de pesquisador e acadêmicas." (Wikipedia)

Portanto, assim como “pós-graduado”, “pós-doutor” não é título acadêmico/universitário.  A pesquisadora eleita para a Academia de Ciências de Lisboa – embora tenha feito também estágio de pós-doc – é professora titular, o mais alto grau da carreira docente universitária no Brasil. Nas universidades públicas paulistas (USP, Unesp, Unicamp), são atualmente quatro categorias na carreira docente: Professor Assistente (para portador de título de Mestre); Professor Assistente Doutor (com título de Doutor); Professor Associado (com título de Livre-Docente, obtido por concurso público, após quatro provas, incluindo a de títulos e a defesa de tese de livre-docência); e Professor Titular, cargo com ingresso por concurso público de provas e títulos, de que podem participar somente os portadores de título de Livre-Docente.

O prefixo “pós” pode também ser utilizado para atribuir juízo de valor negativo e desqualificativo ao conceito a que se vincula, como em “pós-verdade” e – sem o devido cuidado ou conhecimento – também em “pós-doutor” e "pós-graduado". Pode, ainda, ser lido como palavra homófona e homógrafa de “pós”, substantivo plural de “pó”, terra seca convertida em partículas reduzidíssimas que pairam e se dissipam no ar e, em sentido figurado, coisa insignificante, passageira, restos de um corpo post mortem...

Post Scriptum: Este post (postagem) sobre “pós” começou a ser escrito após perguntas de alunas, quando me apresentei como professora titular, e foi finalizado logo após eu ter lido, com satisfação, a notícia da eleição, para a Academia de Ciências de Lisboa, da colega Maria Encarnação Beltrão Sposito, geógrafa e professora titular da Universidade Estadual Paulista – campus de Presidente Prudente.

Maria Mortatti – 09.03.2023