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120 ANOS DE MURILO MENDES: efemérides, eternérides e afinidades eletivas

Correspondência cordial. Cartas inéditas de Murilo Mendes para Xavier Placer. Edmílson Caminha (Org.) (Sarau das Letras, 2021)


Em 2021, comemoram-se os 120 anos de nascimento do poeta Murilo Mendes (Juiz de Fora, 13.5.1901 - Lisboa, 13.8.1975), que recebeu o Prêmio Graça Aranha da Academia Brasileira de Letras, em 1930, e o Prêmio Internacional de Poesia Etna-Taormina, em 1972, época em que exercia a função de professor de literatura brasileira na Universidade de Roma.

Destacada homenagem ao poeta é a que lhe presta o escritor, jornalista e professor, Edmílson Caminha, com o livro Correspondência cordial. Cartas inéditas de Murilo Mendes para Xavier Placer (Sarau das Letras, 2021. 72 p. Il.).

Em edição primorosa, refinada e impecável, Caminha reuniu um pequeno, mas valioso, conjunto de documentos em fac-símiles — cartas, cartões, telegramas, bilhete, procuração e prospecto — da correspondência entre os dois missivistas, além de precioso depoimento de Placer. Guardada por esse ilustre bibliotecário e professor universitário, a correspondência foi por ele doada a Caminha, que, por sua vez, doou-as ao Museu de Arte Murilo Mendes, em Juiz de Fora (MG), e nos dá a conhecer nesse livro, cuja leitura, como uma "madeleine” molhada no chá, despertou em mim saborosas lembranças.

Devo o conhecimento da poesia de Murilo Mendes aos meus professores do curso de Letras, em Araraquara/SP, no início dos anos 1970. Marcante encontro com seus poemas, que ficaram “nos arredores do que vai acontecer” e agora se me apresentam com a memória destes versos: “Minha terra tem macieiras da Califórnia/onde cantam gaturamos de Veneza.”; “A matéria é forte e absoluta/Sem ela não há poesia"; “Ainda não estamos habituados com o mundo/ Nascer é muito comprido”; “Não se trata de ser ou não ser,/Trata-se de ser e não ser.”

Meio século depois, reencontro o “poeta brasileiro de Roma” no presente que ganhei do organizador do livro-homenagem. Parafraseando suas palavras na apresentação da obra, devo a esse amigo escritor: o reencontro com Murilo Mendes, o conhecimento de Xavier Placer e muitas agradáveis conversas sobre autores, compositores e obras literárias e musicais. E, ao amigo e editor, João Scortecci, devo o encontro com Edmílson Caminha, cujos livros recomendo, em particular o que aqui apresento.

Assim, a poesia vai cumprindo sua “missão” de nos recordar, desta vez na voz de Murilo Mendes, que “nascer é muito comprido”, que se trata de “ser e não ser” e que “a memória é uma construção do futuro mais do que do passado”. E, sobretudo, mais do que efemérides, a poesia proporciona encontros de afinidades eletivas, a serem perenemente comemoradas, como tributo e gratidão, no calendário das eternérides.

 MARIA MORTATTI – 23.11.2021