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1984, 2021, 2091 - QUEM CONTROLA O PASSADO, O PRESENTE E O FUTURO?

Era uma noite quente de 23 de março de 2021, os relógios marcavam 20h30, mentiras começaram a se repetir no pronunciamento oficial, enquanto a tenebrosa verdade era escancarada pelos números de vítimas da Covid-19 no Brasil: 3.158 brasileiros mortos em 24h; 298.843 mortos em pouco mais de uma ano.

Lembrei-me do romance-distopia “1984”, de Orwell, e do artigo que escrevi sobre a “Política Nacional de Alfabetização”, decretada em 19.04.2019 como uma das realizações dos 100 primeiros dias do atual governo federal. Era antes da peste pandêmica, mas já estava em plena vigência a peste do projeto de destruição do País, que a cada dia se escancara. E não há “ministério de falsas verdades” que consiga esconder o horror dos que morreram e dos que agonizam sufocados pelas mentiras; e o clamor dos que sobrevivem - como nós -, com o dever urgente de assumir o controle do presente e do passado, para denunciar as fraudes, resistir e lutar pela vida para nossa geração e para as gerações que virão.  

Assim, escrevi em novembro de 2019:

“Como estarão nas próximas décadas as crianças que hoje passam a ser submetidas ao  aprendizado  primeiramente (ou somente) do sistema alfabético da língua portuguesa,  para  depois  (um dia, quem sabe?) estarem habilitados/autorizados a ler e escrever com compreensão, se não tiverem morrido de bala perdida, sede, fome ou vício [ou Covid-19], se tiverem sobrevivido à destruição do meio ambiente e dos direitos humanos e sociais e aos tantos outros ataques da política neoliberal e ultraconservadora em implementação no país? 

Talvez em 2091, algum historiador sobrevivente da “ditadura da idiotia” (MORTATTI, 2007) imposta nestes brechtianos “tempos sombrios”, vindo a encontrar vestígios de registros (como este), que por algum inescrutável acaso tenham escapado da vigilância destruidora do “Ministério da Verdade” e  sobrevivido  ao  descarte  nos  “buracos  da  memória”,  decida escrever sua versão do sentido da PNA na história da alfabetização no Brasil, e, quiçá inspirado no romance 1984, de George Orwell, assim inicie sua narrativa: “Era um dia frio e ensolarado de abril...” "

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MARIA MORTATTI - 24.03.2021