(quase parlenda)
Para Yves Maniette
De passagem por minha terra natal, certa vez,soube que lá vivia como camponês,
de olhos azuis por trás do pince-nez,
com um sorriso sempre cortês,
um solitário professor francês,
que, ao me ver, perguntou em confuso português:
_Quem é essa mulher bonita?
Ter-lhe-ia ofuscado a visão, talvez,
o mesmo sol que abrasou sua tez?
Ou estes tórridos trópicos derreteram-lhe a sensatez?
Mas não sei se por timidez,
ou por narcísea embriaguez,
fui-me, sem nem querer saber seus porquês,
sem nem lhe agradecer pelo bem que me fez:
ainda que em tardia primeira vez,
sem temer nenhum revés,
pude responder, com sentido e altivez,
àquela antiga pergunta da prova de francês:
_ Je suis une belle femme!
Maria Mortatti - 2005
(Publicado em revista Linha Mestra, Associação de Leitura do Brasil, 2007
Publicado em Antologia Ruínas. São Paulo: Patuá, 2020.)